Habitualmente escrevo nesta coluna mais sobre as minhas impressões políticas, do que das minhas posições culturais ou de investigação académica. Como em muitos momentos, principalmente quando se vive demasiado no burburinho numa capital, entra-se numa espécie de preconceito, mesmo que se saiba ser errado, de que os grandes encontros e desenvolvimentos têm lugar a partir dessas capitais. Ora o encontro dos “Espaços do Barroco”, em Arcos de Valdevez, prova mais uma vez como se está errado. Talvez mais ligada à ideia da magnífica natureza que envolve o Alto Minho e à convicção do património histórico que encerra, esqueci-me que, na realidade, é fora dos grandes centros que se vê, muitas vezes, os avanços na valorização e adaptação do passado ao futuro. E isso se vê no centro interpretativo do Barroco, um espaço que recuperou, sem alterar e respeitando integralmente a igreja do Espírito Santo. Esse espaço, do século XVII, com uma exuberante talha joanina que reflete o sol com o seu esplendor de ouro, adaptou-se aos tempos modernos, desde o wi-fi (por vezes tão difícil de manter no interior de Portugal), painéis com som e imagem de alta tecnologia, unindo o tradicional, o antigo, com o futuro.

Ao contrário do que muitas vezes se presencia, mesmo nas universidades, quando os alunos muitas vezes só aparecem quando são obrigados, vi adolescentes sequiosos pelo conhecimento de áreas de investigação que parecem tão herméticas e pretensamente isoladas, quase próprias de uma “bolha”. É verdade que este centro, criado em 2018, é uma obra também política, acção da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez. Mas não é para isso mesmo que serve o poder da edilidade? Servir também ao e para o conhecimento. O respeito e consideração para com o passado, o património, a cultura, a arte, ou seja, o que está na nossa origem e daquilo que somos obrigados a devolver às gerações futuras. Como garantes do testemunho e do que nos relembra do que somos e daquilo que nunca deixaremos de ser. Agradeço particularmente aos Nuno Soares, Sofia Queiroz, Maria João Coutinho, Sílvia Ferreira que, sem eles, essa abertura ao maravilhoso, do passado encontrado com o presente para valorizar o futuro, num local “onde Portugal se fez”, não teria acontecido.