Aproximação entre os excluídos

Os efeitos da guerra na Ucrânia estão a forçar Moscovo a uma aliança estratégia com o Irão, país que a Rússia considera, em essência, um rival. Na cimeira de Teerão, que juntou Vladimir Putin e o Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, participou igualmente o Presidente turco, Recep Erdogan, principal mediador do conflito ucraniano. A passagem de cereais pelo Mar Negro e a Guerra Civil Síria foram temas da negociação.

Num evidente desafio ao suposto isolamento do seu país, Vladimir Putin visitou esta semana Teerão, onde se realizou uma cimeira de dois países que o Ocidente considera párias internacionais: a Rússia e o Irão. O encontro contou com a participação do Presidente turco, Recep Erdogan, que também é o principal mediador da crise ucraniana e tem sido visto com desconfiança pelos seus aliados da NATO.

Nesta cimeira, o Presidente russo elogiou os esforços de mediação de Erdogan e afirmou que houve progressos na negociação sobre a passagem de cereais ucranianos pelo Mar Negro. Os três líderes falaram sobre a Guerra Civil Síria e os iranianos fizeram um duro aviso sobre eventuais incursões turcas em território sírio, a mostrar a fragilidade do embrião de aliança.

As discussões cruzadas revelaram uma aproximação entre três países (imperiais ou pós-imperiais) com ambições antagónicas na vasta região do Médio Oriente, Levante, Cáucaso e Ásia Central. Irão, Rússia e Turquia parecem condenados à cooperação. Os dois primeiros estão sob intensa pressão e sujeitos a embargos de exportações petrolíferas.

A aproximação russo-iraniana é tão antiga como a rivalidade dos dois. A Rússia fornece armas aos iranianos, foi o primeiro país a reconhecer a República Islâmica do Irão, em 1979, e colaborou no desenvolvimento do programa nuclear dos aiatolas. As relações entre Rússia e Pérsia remontam ao século XVI.

A aproximação é estratégica e deve incluir medidas financeiras, como abandono do uso do dólar norte-americano no comércio bilateral. A Gazprom também pretende investir 40 mil milhões de dólares no sector do gás iraniano.

Leia o artigo na íntegra na edição do NOVO que está esta sexta-feira, dia 22 de Julho, nas bancas.