Os analistas consultados pela Lusa acreditam que o Banco Central Europeu (BCE) e a Reserva Federal norte-americana vão avançar sincronizados para um corte das taxas de juro em junho, colocando a tónica no ritmo da descida.

Depois de anos com as taxas de juro em mínimos históricos, a Reserva Federal norte-americana adiantou-se ao BCE na luta contra a inflação e, em março de 2022, iniciou o fim da era de dinheiro barato ao subir as taxas, pela primeira desde 2018, em 25 pontos base.

A subida das taxas pelo BCE só ocorreu em julho de 2022, pela primeira vez em 11 anos, com um aumento de 50 pontos base.

A diferença de calendário levou os analistas a criticarem a “demora” do BCE em agir, mas agora os dois bancos centrais poderão ficar alinhados no mês do primeiro corte, segundo a expectativa dos mercados.

O BCE e a Fed, que têm mantido inalteradas as taxas de juro nas últimas reuniões, avaliam se a inflação está controlada ao ponto de poderem começar a cortar as taxas, tornando mais barato aos consumidores e às empresas contraírem empréstimos, gastarem e investirem, e evitar uma desaceleração económica que leve a um aumento do desemprego.

Como esperado, o BCE manteve hoje as taxas de juro inalteradas pela quarta vez consecutiva e a presidente da instituição, Christine Lagarde, em conferência de imprensa, considerou que o banco central está a “fazer bons progressos” no sentido de reduzir a inflação para a meta de 2%, mas que ainda não chegou lá.

O BCE cortou a previsão de inflação média para a zona euro para 2% em 2025, o que colocará a inflação no próximo ano em linha com o objetivo de estabilidade de preços do banco central, prevendo uma taxa de 2,3% em 2024.

As declarações de Lagarde criaram expectativa no mercado sobre o momento de um corte nas taxas, ao afirmar que os dados económicos decidiriam o próximo passo do banco e que em abril terá um “pouco” mais de informação e “muito mais em junho”.

A observação de Lagarde foi uma “indicação não muito subtil de que o BCE irá provavelmente esperar até junho antes de cortar as taxas”, consideram os analistas do ABN AMRO Financial Markets Research Nick Kounis e Aline Schuiling, numa nota de research.

“Assim que a maior parte dos dados estiver disponível no final de abril, e no cenário provável que aponte para uma moderação nas pressões salariais, o BCE deverá estar preparado para iniciar o ciclo de cortes nas taxas, o que esperamos que aconteça na reunião de junho”, prevê também Anna Stupnytska, economista da Fidelity International.

Uma opinião partilha pelo economista da Abrdn, Félix Feather, que prevê que “o primeiro corte nas taxas ocorra em junho, assim que o Conselho do BCE tiver em vista os dados salariais do primeiro trimestre”.

O economista-chefe do ING, Carsten Brzeski, destacou que Lagarde “abriu ligeiramente a porta a cortes nas taxas na reunião de junho”, mas salienta que “com a inflação a descer gradualmente, mas sem ficar abaixo do objetivo, e com o crescimento a regressar ao potencial ainda este ano, as perspetivas macro do banco central não dão muito espaço para uma série mais longa de cortes nas taxas”.

O mês de junho está também no horizonte dos mercados sobre a ação da Fed e ganhou força depois de o presidente da instituição, Jerome Powell, ter afirmado as taxas de juro “provavelmente atingiram o seu ponto máximo deste ciclo” e se as condições económicas o permitirem pode ser apropriado começar a reduzi-las este ano.

Os analistas da Generali AM destacam que “há muita especulação sobre a magnitude, o momento e a sequência dos primeiros cortes das taxas por parte da Fed e do BCE” e que a análise das decisões passadas “mostra que o BCE é relativamente independente da Fed e que ambos os bancos centrais apenas reagem ao respetivo ambiente, que foi por vezes semelhante no passado”.

A previsão da Generalli AM aponta para um total de cortes nas taxas de 75 pontos base este ano pela Fed e cortes cumulativos de 100 pontos base pelo BCE.

Numa nota do Goldman Sachs, os analistas do banco (que esperam que o BCE, a Fed e o Banco de Inglaterra, reduzam as taxas pela primeira vez em junho) consideram que “há menos clareza quanto ao ritmo dos cortes nas taxas, especialmente porque os bancos centrais têm sido relutantes em dar orientações com demasiada antecedência”.

Ainda assim acredita que os bancos centrais irão cortar os juros em pelo menos três reuniões consecutivas a partir de junho e “continuarão a cortar consecutivamente em economias como a zona euro e o Reino Unido, onde o crescimento permanece abaixo da tendência, mas abrandarão em economias como os EUA, onde atividade permanece resiliente”.