Algarve sem qualquer hematologista desde Março, denuncia sindicato

Sindicato diz que algarvios “estão a ser sujeitos a um risco inaceitável” e responsabiliza o Governo pela “incapacidade” em contratar médicos.

O Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) não tem qualquer hematologista desde Março passado, altura em que a única especialista rescindiu o contrato de trabalho por “manifesta falta de condições”, denuncia o Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

De acordo com uma nota do sindicato, até Setembro de 2022, trabalhavam no CHUA três hematologistas, que assistiam uma média de 1000 doentes no polo de Faro e de 500 doentes no de Portimão.

Entre Setembro e Novembro de 2022, saíram dois hematologistas, ficando a assistência a estes 1500 doentes a cargo de uma única hematologista, “a qual por manifesta falta de condições, acabou por rescindir o seu contrato de trabalho com efeito ao final de Março de 2023”.

O SIM recorda que o CHUA é um hospital central e universitário com responsabilidade na formação médica pré e pós-graduada. Além disso, situa-se a 140 quilómetros do Hospital de Beja, 210 do Hospital de Évora e cerca de 300 de Lisboa. “A distância em relação a Beja ou Évora, bem como o número reduzido de hematologistas nestes hospitais, não permite serem considerados uma alternativa ao CHUA na assistência aos doentes com patologia hematológica”, frisa o sindicato liderado por Roque da Cunha.

A maioria dos 1500 doentes, sublinha o SIM, tem patologia hemato-oncológica, necessita de acompanhamento diferenciado por médicos hematologistas, pelo que “não é aceitável a sua orientação por outra especialidade médica”. “Serão com certeza muitos mais os doentes ainda não diagnosticados. A estes doentes está a ser recusado o seu direito constitucional à saúde e estão a ser sujeitos a um risco inaceitável”, alerta o SIM.

Ao mesmo tempo, aos alunos do curso de medicina da Universidade do Algarve “está a ser negada a necessária formação em Hematologia”.

“Esta situação resulta da incapacidade do Governo em contratar médicos por falta de investimento no SNS e na sua justa remuneração. Também nessa especialidade os algarvios estão a ser discriminados”, conclui o sindicato, que já questionou o conselho de administração sobre quando haverá hematologistas no Algarve e quais as diligências para tal.