Os avanços tecnológicos, as alterações nos hábitos de consumo, as mudanças demográficas e a globalização, estão na origem da extinção de algumas profissões, comumente conhecidas por profissões tradicionais. Mas, se por um lado, verificamos a extinção de algumas profissões, por outro, observamos a resistência de muitas delas a estes fatores, seja pela habilidade técnica difícil de substituir, ou pela inviabilidade de automatização das mesmas. Tal facto, revela a relevância destas profissões para as sociedades modernas, sendo impreterível uma mudança de paradigma, sob pena de faltarem recursos humanos com as competências necessárias para as desempenhar.

A inação relativamente a esta problemática, originará a curto prazo, constrangimentos em alguns setores, nomeadamente nos setores têxtil, mobiliário e de construção. Na região do Algarve são já notórios os constrangimentos existentes, em particular, no setor da construção, onde se verifica uma escassez de mão de obra em profissões como a carpintaria, serralharia, canalização, soldadura, eletricista, com consequências significativas para a economia da região.

Torna-se assim importante refletir e perceber quais as dinâmicas e impactos que estão por trás desta realidade e intervir de forma célere, no sentido de alterar esta tendência, crescente nos últimos anos.

Entre as dinâmicas mais reveladoras que contribuem para a falta de mão de obra nestas profissões, encontra-se o crescimento do número de indivíduos licenciados, que quase triplicou no Algarve, quando comparando os anos de 2001 e 2021, e ainda a baixa atratividade das mesmas. Estas profissões, ainda que consideradas fundamentais, são hoje estigmatizadas por uma sociedade que, não só sobrevaloriza o grau académico, como considera que estas são associadas a um trabalho menor, que não dignifica o indivíduo, o que gera uma resistência, por parte das novas gerações, em enveredar por estas profissões, ainda que ofereçam garantias de empregabilidade e condições financeiras mais atrativas do que a formação superior.

Com vista a inverter esta tendência, é necessário adaptar o sistema educativo atual, no sentido de garantir alternativas ao ensino superior. Sistemas educativos amplamente reconhecidos por fomentarem a excelência na preparação dos jovens para o mercado de trabalho e a promoção de sinergias entre o setor educacional e o setor empresarial, tal como o alemão, Duales Bildungssystem, podem servir de base para as necessárias reformas no sistema educativo português. Apesar destas medidas mitigarem o problema a longo prazo, é necessário atuar também a curto prazo. Neste sentido, facilitar a requalificação profissional poderá ser uma solução, sendo necessário reabrir e reforçar os centros de formação profissional para profissionais no ativo, de forma a que os mesmos desenvolvam novas competências de acordo com as suas ambições.

Uma ressalva também para a mão-de-obra imigrante, pois se desejamos beneficiar da imigração, como uma das soluções para a escassez de mão-de-obra nestas profissões, é fundamental formar e capacitar esses trabalhadores, assegurando a qualidade desejada para o desempenho dos ofícios, bem como a sua permanência no país.

A atual inoperância face a esta temática, inevitavelmente, prejudicará a economia nacional, mas não de forma equitativa. São regiões, como o Algarve, menos resilientes economicamente, que sentirão, de forma mais acentuada, esses efeitos. É assim essencial ir de encontro às necessidades do tecido empresarial da região, tendo em vista um maior equilíbrio entre a oferta e a procura.

Nota: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.

Soraia de Almeida, engenheira