A gestão sustentável do recurso água, em especial nos seus aspetos quantitativos, constitui um verdadeiro desafio, tendo em conta o atual contexto de alterações climáticas, em particular, as secas prolongadas. Deste modo, torna-se imperativa a alteração de paradigma no setor da água, com vista a garantir o equilíbrio entre as necessidades hídricas de cada setor de atividade (e.g., urbano, agrícola, turismo) e a disponibilidade do recurso.

Em Portugal, se por um lado, a conservação dos recursos hídricos e o uso eficiente da água já constituem objetivos nacionais, por outro, verifica-se que ainda não existe uma prática generalizada de reutilização de água, mesmo em contextos regionais de maior escassez hídrica, como é o caso da região do Algarve, em que é impreterível o recurso a origens de água alternativas.

Deste modo, é necessário intensificar a prática de reutilização de águas residuais tratadas, denominada, Água para Reutilização (ApR), que é já hoje encarada como um dos pilares para a gestão sustentável dos recursos hídricos, noutros países. A definição formal de ApR refere-se às águas residuais recolhidas através de redes de coletores, tratadas em estações de tratamento de águas residuais urbanas (ETAR), que são submetidas a um tratamento adicional, a fim de satisfazerem os parâmetros de qualidade estabelecidos para o fim a que se destinam. Os fins de utilização são múltiplos, nomeadamente, para a rega agrícola, paisagística e lúdica (e.g. campos de golfe), para a indústria (e.g. sistemas de refrigeração) e ainda para limpeza urbana, lavagem de viaturas, entre outros usos urbanos.

Feita a contextualização, qual o atual panorama em Portugal, em matéria de utilização de ApR como origem alternativa de água?

Ora vejamos, em Portugal, em 2020, apenas 1,1% das águas residuais tratadas das ETAR foram reutilizadas, sendo que, atualmente, o maior caso de sucesso, na utilização de ApR para fins de rega de espaços verdes públicos e limpeza urbana, reside em Lisboa, prevendo-se que, até 2025, a autarquia reutilize 3 milhões de m3/ano de ApR.

Já no Algarve, atualmente, o volume de ApR utilizado é de 1,4 milhões de m3/ano, prevendo-se, até 2025, quadruplicar este volume, atingindo 8 milhões de m3/ano. É no concelho de Loulé que o recurso a esta origem alternativa de água terá maior expressão, com a utilização de um volume estimado de 3,4 milhões de m3/ano, resultado de um investimento de 15 M€. Este volume de água será utilizado para a rega dos espaços verdes públicos e privados, campos de golfe e ainda na limpeza urbana, o que fará do concelho de Loulé o maior caso de sucesso a nível nacional.

É evidente que esta é uma das medidas de relevo que irá contribuir, não só para o aumento da disponibilidade hídrica da região, como também para a circularidade da água. A estratégia na gestão dos recursos hídricos, deverá, sempre, compreender uma abordagem holística, que combine várias origens alternativas, explorando o potencial da região. Paralelamente, é imprescindível a monitorização dos consumos associados aos vários setores de atividade, que deverá ser, consideravelmente, melhorada e equitativa. Um desígnio fácil de constatar, mas, ao que parece, difícil de implementar.

Nota: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.