Por gosto pessoal ou por inerência das minhas funções, o tema das urgências desperta-me sempre algo de muito ambíguo. Se, por um lado, poucas coisas me deixam tão realizada como o trabalho na área da urgência – pré ou intra-hospitalar –, por outro exige sempre muito de mim e de todos os que se dedicam a estas áreas.

É do conhecimento geral, penso eu, o funcionamento dos diferentes serviços de urgência hospitalares e da rede de referenciação. O que pouco se fala – ou pouco se valoriza – são os Serviços de Urgência Básicos, que, no Algarve, temos quatro. Confundem-se, muitas vezes, com urgências dos cuidados de saúde primários, até porque, muitas vezes, estão sediados nos centros de saúde, ainda que com funcionamento e dinâmicas muito próprias.

Os Serviços de Urgência Básicos, inicialmente chamados Unidades Básicas de Urgência, aprovados através do Despacho nº. 18459/2006, são serviços de proximidade que, na verdadeira aceção da palavra básico, são essenciais, fundamentais e muito exigentes em competência técnica, pois têm como primordial função, a estabilização de doentes por proximidade, antes do encaminhamento para o Serviço de Urgência Médico-Cirúrgico, Polivalente ou Pediátrico, mais próximo.

O Algarve tem quatro Serviços de Urgência Básicos integrados na Unidade Local de Saúde do Algarve: Vila Real de Santo António, Loulé, Albufeira e Lagos. A maioria, não dista os 60 minutos preconizados em decreto do serviço de urgência mais próximo (Faro e/ou Portimão), mas abrangem uma população superior a 40 mil habitantes. Ainda assim, continuo a acreditar que fazem sentido – pelo critério demográfico ou porque permitem que, algumas localidades, estejam a menos de uma hora de distância de um serviço com profissionais capacitados para lidar com situações urgentes e/ou emergentes. Caso contrário, as urgências mais próximas seriam, neste caso, localizadas em Faro, Portimão, Beja ou Santiago do Cacém. Portanto, os Serviços de Urgência Básicos são, desde há mais de 20 anos, talvez o primeiro serviço de proximidade a ser criado.

A utilização destes serviços para muito mais do que estabilização de doentes permite-nos, por um lado, retirar alguns doentes menos graves dos serviços dos outros serviços de urgência e, por outro, encaminhar apenas os que necessitam de meios mais diferenciados.

Os recursos humanos mínimos para um Serviços de Urgência Básicos são dois médicos e dois enfermeiros, um assistente operacional e um assistente técnico, em presença física. Nos últimos anos, tem-se assistido a um aumento de cerca de 10-15% da afluência aos Serviços de Urgência Básicos – alguns com mais de 150 admissões em 24 horas –, comparativamente aos outros serviços de urgência, que têm tido um decréscimo na ordem dos 5-10%, o que começa a tornar insuficiente este número de recursos. Além disso, por não serem específicos para adultos, também a afluência de utentes em idade pediátrica tem aumentado, o que exige uma formação muito abrangente de todos os profissionais.

Perguntamo-nos, então, que situações requerem transferência para uma urgência não básica? Todas aquelas em que haja necessidade de avaliação por especialidade médica, cirúrgica ou pediátrica após uma primeira abordagem ou estabilização ou as que requeiram exames mais complexos, uma vez que os Serviços de Urgência Básicos dispõem apenas de radiologia simples e análises sanguíneas básicas.

Sou, talvez por inerência das minhas funções, mas também por muito gosto pessoal, uma entusiasta dos Serviços de Urgência Básicos. De cada vez que lá vou percebo a complexidade e a preponderância que estes serviços têm para a rede de urgências no Algarve e orgulho-me de todos os profissionais que, dia após dia, e com tantas dificuldades e sobrecarga, continuam a acreditar e a dar o corpo e a alma para os manter a funcionar.

Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora