Agente do SIS estava a ser “muito pressionado” para recuperar computador de ex-adjunto

Durante a audição na Comissão Parlamentar de Inquérito, Frederico Pinheiro disse ter sido “ameaçado” pelo SIS, contrariando a narrativa do Conselho de Fiscalização.

O ex-adjunto do ministro João Galamba disse hoje aos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da TAP que foi “ameaçado” pelos serviços secretos e que o agente que o abordou disse estar a ser “muito pressionado” para recuperar o computador.

Frederico Pinheiro contou aos deputados, passo a passo, o episódio da noite de 26 de Abril que envolveu um agente da SIS. Partilhou que, por volta das 23 horas, recebeu uma chamada de um número desconhecido que não atendeu. Minutos depois voltou a receber outra chamada, altura em que decidiu atender e do outro lado encontrava-se uma pessoa que se identificou como agente do SIS. O ex-adjunto do ministro das Infra-Estruturas relatou, respondendo a questões do presidente do Chega, André Ventura, que lhe foi, então, pedida a devolução do computador que tinha ido buscar ao ministério depois de ter sido exonerado pelo ministro.

Frederico Pinheiro contou que sentiu “choque e incredulidade” por estar a ser contactado pelo SIS e, desconfiado, pediu que lhe fosse dado um código para certificar-se de que se tratava mesmo de um agente dos serviços de informação. Tal código foi-lhe dado e Frederico Pinheiro ligou para a sede do SIS pelas 23h16.

Minutos depois, pelas 23h39, o agente do SIS voltou a contactá-lo e disse-lhe estar a ser “muito pressionado” para recuperar o computador e terá dito a Frederico Pinheiro que era “melhor resolver a bem” para que “tudo não se complique”. O ex-adjunto terá respondido ao agente do SIS que precisava de um comprovativo da entrega do computador ou, em alternativa, que a entrega fosse feita na presença de uma familiar sua, uma procuradora-geral adjunta, hipótese que o agente do SIS recusou. O mesmo agente, adiantou, disse-lhe que a partir do momento em que entregasse o computador não mais ouviria falar do assunto e Frederico Pinheiro disse que “confiou”. Saiu de casa antes da meia-noite e entregou o computador ao agente do SIS no fim da rua onde vive, tendo aquele agente dito: “o assunto morre aqui”.

Frederico Pinheiro reiterou que foi ele próprio quem solicitou a classificação de dez documentos já depois da criação da CPI e de serem requeridos, e garantiu que “não tem” actualmente nenhuma cópia desses documentos.