Depois da noite eleitoral de domingo, que deu a vitória à tangente à AD, com 79 deputados (29,5%) contra os 77 do PS (28,6%) – falta apurar círculos da emigração -, Luís Montenegro fechou no seu gabinete na São Caetano à Lapa para, sozinho, decidir os nomes que vão compor o seu governo, ainda que tenha pedido opiniões aos seus mais próximos. À semelhança do que fez Cavaco em 1985, que se fechou na Pousada de Manteigas a delinear o seu executivo – aliás, Montenegro tem seguido a estratégia do político que já disse ser a sua referência em muitas frentes -, também o líder da AD não quer deixar transpirar nada para a comunicação social e quer ser ele a dar os nomes ao Presidente da República. Mas alguns pontos da estratégia vão sendo falados, até porque os vices assumiram o espaço público, e o NOVO sabe que Luís Montenegro quer apostar num governo “politicamente muito forte”, com experiência tanto no combate político, como na árdua tarefa de negociar diploma a diploma com “todos” os partidos da oposição tendo em contra a frágil maioria relativo que tem no parlamento e as ameaças constantes de poder cair às mãos do Chega ou do PS.
Por isso, e esta é uma estratégia dada como certa no núcleo-duro de Luís Montenegro, o governo da AD vai ter de “dar o tudo por tudo” logo no arranque da governação, mostrar serviço no mínimo de tempo possível e avançar logo com as medidas que mais dizem aos portugueses e mais populares para chegar a outubro com um capital de obra feita que lhe permita culpar a oposição no caso do chumbo do orçamento do Estado para 2025. Em suma, o governo de Luís Montenegro não terá o tal estado de graça de cerca de três meses que normalmente outros têm e todos os olhos estarão em cima do que fará logo no arranque estará sob alta pressão. Terá dois meses para vencer o teste da popularidade. A prata da casa está pronta para avançar para o combate político – seja no executivo, seja na liderança parlamentar -, mas o governo terá também de contar com especialistas de áreas específicas para passar credibilidade aos sectores e Luís Montenegro foi anunciando alguns na campanha e até os chamou para elaborar o programa eleitoral. Mas já lá vamos.

Retificativo? Que medidas avançam já
O Presidente da República começou na passada semana a ouvir os partidos que elegeram deputados e termina quarta-feira com a AD. Se os quatro mandatos que falta apurar no circulo da emigração não derem uma surpreendente volta ao resultado, Luís Montenegro deve ser nesse mesmo dia convidado por Marcelo a formar governo. Pelo que em Abril já poderá haver a tomada de posse de um governo com elementos do PSD, do CDS e independentes (a IL deverá ficar de fora).
Para já, o líder da AD vai governo com orçamento que está em vigor. Montenegro quer ao máximo evitar a apresentação de um orçamento retificativo (seria o primeiro teste no parlamento, onde o caminho é mais estreito porque não tem maioria e o Chega ameaça chumbar) e vai avançar o mais rápido possível com as medidas que não exijam despesa ou que encaixem dentro da folga orçamental deixada pelo governo de António Costa, aprovando-as em Conselho de Ministros, sem passarem pelo parlamento, como confirmou ao NOVO fonte da AD.
Ou seja, serão medidas feitas por decreto e avança já a negociação com a GNR e a PSP para a definição do suplemento de missão (tal como já é atribuído à PJ) e reposição gradual (20% ao ano) do tempo de serviço dos professores (uma despesa de 60 milhões ao ano) e a implementação dos primeiros passos do Plano de Emergência SNS 24/25. Na calha, disse ao NOVO uma fonte do PSD, estará também avançar o quanto antes com algumas medidas que faziam parte do pacote fiscal. Mas a mesma fonte diz que o governo terá de tomar posse, primeiro, para poder observar ao detalhe a execução orçamental e os compromissos assumidos pelo anterior governo para apurar qual a folga exacta que tem e que medidas pode aprovar já sem exceder os tetos orçamentais antes definidos (o que já obrigaria à apresentação de um orçamento retificativo, que querem evitar a todo o custo). Outro dos processos que Luís Montenegro quererá colocar logo em cima da mesa será o da localização do novo aeroporto.