A urgência no combate à poluição atmosférica não se esgota pelos motivos ambientais. A redução da emissão de gases com efeito de estufa é essencial para o nosso presente e futuro. As alterações climáticas produzem um conjunto de danos em várias dimensões das nossas vidas e da nossa saúde que, se nada for feito, se tenderão a agravar nos próximos anos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a poluição atmosférica é responsável por cerca de sete milhões de mortes todos os anos. Apenas uma em cada cem pessoas respira ar com níveis de poluentes dentro dos limiares considerados seguros. A exposição prolongada à poluição atmosférica encontra-se relacionada não apenas com aumento de mortalidade, mas igualmente com o aumento da carga de doença. Pessoas a expostas a maiores concentrações de poluentes atmosféricos têm mais episódios de internamento por doença cardiovascular.
Apesar de a OMS definir um limiar de segurança para a exposição a estes químicos, não existe consenso sobre qual o valor exato. No entanto, é claro que a carga de doença e de mortalidade aumentam em proporção da concentração da poluição. O fim dos motores de combustão, responsáveis por cerca de 25% de todas as emissões, evitaria perto de três milhões de crises de asma por ano em crianças, salvando a vida a cerca de 600 menores todos os anos, apenas nos Estados Unidos.
Dada a importância e relevância deste tema, e encontrando-nos em contexto de eleitoral, seria de esperar que o ambiente tivesse um maior protagonismo no debate mediático. Se é verdade que a maioria dos partidos apresenta um programa para o ambiente, a grande parte destes documentos são pouco ambiciosos.
Necessitamos urgentemente de uma transição energética, alicerçada num verdadeiro planeamento com foco na equidade, de forma a não deixar ninguém para trás. A redução da emissão de gases com efeito de estufa só pode ser alcançada com uma transformação e reformulação dos nossos modos de produção e consumo, bem como na forma como pensamos a agricultura e a gestão da água.
As desigualdades sociais fazem parte da história das emissões de gases com efeito de estufa. O 1% das pessoas com maior rendimento é responsável por tantas emissões como os 66% mais pobres. Isto mostra-nos que, se é verdade que há lugar para ações individuais, como a recusa na utilização de palhinhas ou a separação de resíduos em casa, rapidamente percebemos que as atitudes e escolhas dos indivíduos serão sempre insuficientes para dar uma resposta eficaz à magnitude do problema.
Por estas razões, o governo que sair das eleições de 10 de março tem obrigatoriamente de colocar o combate às alterações climáticas entre as suas prioridades. Porque só através de ação e planeamento coletivo será possível efetuar uma transição energética justa.
Para salvar vidas, reduzir a carga de doença e poupar recursos, é importante enquadrar o ambiente em todas as políticas. Não é apenas o futuro que está em risco, é no presente que sentimos o efeito da pouca ação neste campo. Está na hora de corrigir as hesitações do passado.
Enfermeiro da Urgência Pediátrica e coordenador da Unidade de Saúde Pública Hospitalar do Hospital Fernando Fonseca