No rescaldo do “choque” com uma triste realidade, o resultado das eleições europeias em França, o presidente Macron, em jeito de “fuga para a frente” e jogando uma autêntica “roleta russa”, convocou eleições legislativas antecipadas para, respetivamente, domingo passado e o próximo dia 7 de julho.

Com um sistema eleitoral desenhado para fomentar maiorias absolutas ao centro – seja ele centro-esquerda ou centro-direita – e, ao mesmo tempo, afastando os extremos (Frente Nacional, seus sucedâneos e o ex-PCF) de uma grande e decisiva representação parlamentar, a situação demográfica e social explosiva que se vive, desde os Anos 80, por terras gaulesas levou a uma lenta, mas completa, implosão dos alicerces estabilizadores da V República, sem que os partidos e (principalmente) os políticos tradicionais consigam sequer compreender o seu povo.

Num fulcral Estado para Portugal, para a UE e para a NATO, dado, respetivamente, a gigantesca diáspora nacional (seja de primeira, segunda ou já terceira gerações) que lá reside e trabalha, ser a segunda maior economia da UE e da Zona Euro, e, ser detentora de uma das melhor equipadas Forças Armadas da Aliança Atlântica, não poderá deixar de nos afetar um qualquer resultado eleitoral.

Com um séquito urbano parisiense, muito ainda no resquício dos “soixante-huitards”, educado e criado em redomas sociais ao melhor estilo latino-americano, as elites gaulesas (de que Macron se tornou o expoente máximo) não conseguiram compreender a mutação e consequente frustração da sociedade francesa dos últimos 30/40 anos.

Um verdadeiro alerta para Portugal e restante Ocidente.

Tentando eclipsar – ao melhor estilo populista – os tradicionais (e ideológicos) partidos do “centrão”, com as habituais patranhas de governar sem ideologia, umas vezes à esquerda e outras à direita, o Presidente Francês matou o centro político ao mesmo tempo que fortaleceu (consciente ou inconscientemente) os extremos.

Nesse sentido assistiu, no passado Domingo, não só a uma vitória (mais de 1/3 dos votos expressos) da Reunião Nacional (onde é que já ouvimos este nome), como à plena humilhação de o “bloco macronista” ter ficado em terceiro lugar, com pouco mais de 20% dos votos e atrás do bloco liderado pela extrema-esquerda, e pelo imprevisível Mélenchon.

Quando os políticos perdem o contacto com a realidade, deslumbrando-se com o seu (sempre efémero) poder, o povo, sempre ele soberano, trata de os chamar “à razão” pela força do seu maior poder, o voto.

Em ano de fundamentais eleições nos EUA e no Reino Unido, também elas bastante imprevisíveis, toda a comunidade política deverá olhar com muita atenção para o que se passou, passa e passará neste fundamental aliado latino, porque a política não é um jogo, muito menos o da arriscada roleta russa.