Em Portugal, a prevalência da diabetes é alarmante. Estima-se que cerca de 13% da população entre os 20 e 79 anos tenha diabetes, sendo que 90% dos casos são de Diabetes tipo 2. Além disso, perto de 40% da população com diabetes apresenta obesidade. Esses números refletem a necessidade urgente de abordagens eficazes para o controlo da doença, como a cirurgia metabólica.

Derivada da cirurgia bariátrica realizada para tratar a obesidade, a cirurgia metabólica vai além da perda de peso. Atua diretamente nos processos metabólicos e hormonais, trazendo grandes benefícios no controle da diabetes tipo 2, muitas vezes com efeitos surpreendentes. Diferente dos tratamentos tradicionais, que dependem de medicamentos contínuos, a cirurgia metabólica atua logo nas raízes do problema, favorecendo a produção natural de insulina e regulando os níveis de açúcar no sangue.

Após a cirurgia minimamente invasiva ou endoscopia que modifica a anatomia do estômago e intestino, o organismo começa a libertar hormonas que aumentam a eficiência na produção própria de insulina. Muitos doentes verificam uma melhoria no controlo da glicose logo nos primeiros dias, antes mesmo de uma perda de peso significativa. Essa resposta rápida e positiva permite a redução imediata de medicamentos e, em muitos casos, elimina a necessidade do uso de insulina. Na maioria dos casos, o paciente recebe alta do hospital após um ou dois dias, em geral livre dos medicamentos, uma vez que a causa foi tratada definitivamente. Após a cirurgia metabólica adequada, a maioria das pessoas com diabetes tipo 2 alcança a remissão da doença, sem necessidade de medicamentos.

Além da resposta rápida, a perda de peso gradual nos meses seguintes contribui para uma melhoria ainda maior na resistência à insulina. Estudos comprovam que os efeitos da cirurgia metabólica no controlo da diabetes tipo 2 permanecem duradouros. Cirurgias como o Bypass Gástrico e inovações como o SADI-S e a Bipartição SASI estão entre as mais eficazes nesse processo. Antigamente, apenas doentes com obesidade mórbida eram elegíveis para esta cirurgia. Atualmente, segundo as novas guidelines, a cirurgia pode estar indicada mesmo em doentes que não têm obesidade severa, simplesmente com o objetivo da remissão da Diabetes.

O primeiro passo para mudar a trajetória desta doença e as suas sequelas é reconhecer que os tratamentos atuais apenas controlam a doença e não impedem a progressão para complicações irreversíveis. Para encontrar o tratamento metabólico mais eficaz, a abordagem terá sempre de ser feita por uma equipa multidisciplinar, como acontece na CUF – com especialistas de endocrinologia, nutrição, psicologia, fisiatria e outros. A consulta inicial poderá ser feita diretamente com o cirurgião metabólico ou de obesidade, que irá ajustar a resposta multidisciplinar a cada caso.

Mas a inovação traz, também, alternativas. Para quem procura um tratamento menos invasivo que a cirurgia, o tratamento endoscópico, como o método Endosleeve, pode ser uma opção eficaz. Este procedimento é realizado por via endoscópica através da boca, sem cortes, e consiste na redução do tamanho do estômago por meio de costuras internas. Além de auxiliar na perda de peso, o método promove mudanças hormonais que ajudam a melhorar o controlo da glicose no sangue, beneficiando, assim, pessoas com diabetes. Por ser menos invasivo, o procedimento oferece uma recuperação mais rápida e menor risco de complicações, sendo uma alternativa para quem não pode optar pela cirurgia.

Recordo-me da Elisabete. Tinha obesidade e Diabetes Tipo 2 desde 2019, fazia a gestão da doença com medicamentos, que eram cada vez mais, até chegar à dependência de insulina diária. Submetida a cirurgia metabólica em outubro de 2023, já deixou o hospital sem medicações para a diabetes. Ela dizia-me: “É uma nova vida, já não tenho a doença, sinto-me viva e bonita novamente”. Também a Juliana que optou pela cirurgia há 6 meses, perdeu 32 kgs e teve a felicidade de alcançar a remissão completa da diabetes “insulino dependente” após a cirurgia, dizia-me: “procuro informar outras pessoas que têm diabetes tipo 2, pois o conhecimento que tínhamos era de que a diabetes seria incurável. Hoje estou feliz por ter eliminado este risco da minha vida”.

Pego nas palavras da Júlia e reafirmo: é preciso informar as pessoas. A possibilidade de remissão da diabetes tipo 2 através da cirurgia metabólica ou da endoscopia digestiva oferece esperança a quem vive com a doença. Quem procura uma alternativa eficaz e científica para controlar a diabetes, deve conversar com um cirurgião ou endocrinologista especializado para esclarecer as dúvidas e encontrar orientação sobre qual é o tratamento mais indicado para o seu caso.