Nas últimas legislativas, 730 mil votos não elegeram deputados e nestas eleições mais de 673 mil votos foram desperdiçados. Por cada 9 portugueses que foram às urnas, um deles votou e esse voto não fez a diferença.

Depois de cada ato eleitoral, este tema é destacado pela comunicação social, mas depois esmorece, até porque, mudar o sistema eleitoral não serve os interesses dos partidos com maior peso na Assembleia da República. Quando na última legislatura, a Iniciativa Liberal apresentou uma proposta para a criação de um círculo nacional de compensação, a maioria dos partidos concordou com a necessidade da medida, mas alegaram que não era o momento. Se o momento não for quando Portugal comemora os 50 anos do 25 de Abril, então não sei quando será.

Quanto à abstenção, que diminuiu nestas eleições, ainda assim atingiu 33,8% em território nacional. A abstenção continua a ser a grande vitoriosa das eleições e a opção favorita dos portugueses, ficando à frente do partido mais votado.

O que é que isto diz de Portugal? O que é que isto diz dos portugueses?

Muitos académicos afirmam que os portugueses estão afastados da política, porque acham que não fazem a diferença, enquanto Isabel Menezes, da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, refere mesmo que existe um sentimento de falta de representação, quando afirma: “Há fatores que têm a ver com a perceção por parte dos cidadãos de um aumento da distância ao poder, de uma ideia de que não se sentem representados”.

O distanciamento e o desalento são a maior ameaça à democracia portuguesa e os partidos políticos não podem continuar a fingir que este problema não existe, principalmente quando temos círculos eleitorais tão prejudicados como o de Portalegre, onde quase 40% dos votos não serviram para eleger ninguém.

Se tiver curiosidade em perceber melhor a real dimensão deste problema, não deixe de visitar o portal que o politólogo Luis Humberto Teixeira desenvolveu:  “o meu voto”. Aqui poderá ver se o seu voto serviu para eleger o partido que escolheu e consegue igualmente ver a quantidade de votos desperdiçados, dependendo dos círculos eleitorais.

Mas no meio de tantos problemas que os portugueses têm, como por exemplo, a dificuldade em pagar as contas; o receio de ficar doente e não ter resposta a tempo; ou o que fazer com as crianças quando há greves na escola; estes problemas sobrepõem-se a tudo o resto. Tudo isto é verdade, mas enquanto não eliminarmos este fosso entre o povo português e os políticos, a Assembleia da República continuará a não representar muitos dos que não desistem de votar (desta vez foram 673.000 pessoas). E enquanto isso não acontecer, haverá sempre quem se aproveite para dizer: “Nós (o povo) e Eles (os políticos), os políticos não fazem nada, os políticos são todos iguais”. O que é importante não esquecer é que quem senta os deputados naquelas cadeiras são os portugueses.

Os países mais desenvolvidos são sempre aqueles em que as democracias são mais fortes e em que a população mais participa. Por isso, não tenho dúvidas que quando soltarmos as amarras deste sistema eleitoral que desperdiça tantos votos, os portugueses vão perceber que quem manda em Portugal é o povo português, que os políticos servem os portugueses e a partir dessa altura as distâncias desaparecem e os problemas vão começar a ser resolvidos.

Vice-presidente da Iniciativa Liberal e deputada municipal em Lisboa