Se existe uma característica no mundo lusófono é o amor e a estima de forma desmedida por tudo quanto são feriados, fins de semana e pontes. Nem de propósito estarmos a chegar à Páscoa para começarmos a exemplificar.

Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa, Sábado de Aleluia, Domingo da Ressureição e Segunda é a Pascoela. Ora o curioso é que estes cinco dias de religiosidades são passados maioritariamente sem que alguém ponha os pés na Igreja ou no mínimo assista a uma celebração litúrgica, mas nos comes e bebes e nas passeatas.

Lembro-me quando era miúdo, que nos diziam “ao menos na Páscoa devemos confessar-nos”. Hoje é sacrilégio falar disto não vá um estrangeiro qualquer ficar ofendido com a nossa Cristandade, ou pior… um tonto nacional. Acho que já pensaram nisto globalmente, pois este ano o Ramadão também bate com a Páscoa… a diferença é que uns jejuam, e outros comem desalmadamente.

Por exemplo, no Brasil uma das expressões mais utilizadas antes do fim de semana é o “sextou”, que significa: Sim é dia de trabalho, mas não me chateiem muito que não vou fazer nada.

Outra tradição mal explicada é não se comer carne na Sexta-feira Santa. Esta ideia, que está no imaginário coletivo há séculos, e não vem da Bíblia ou da boca de Jesus, segundo o Novo Testamento. Foi adotada pela Igreja como meio de penitência e luto pela paixão e morte de Jesus – portanto, não vamos parar ao Inferno por comer carne neste dia.

Lembro-me de ver pessoas “benzocas” num restaurante a pedir frutos do mar, porque não podiam comer carne… Enfim, é este disparate que persiste.

Já a Pascoela é uma versão latina do boxing day (26 dezembro). A seguir ao Natal, os anglo-saxónicos estão todos de ressaca e aflitos do estômago. A Pascoela surte o mesmo efeito. De novo, a preguiça para ir trabalhar.

Mas nem todos os países lusófonos celebram a Páscoa. Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau não fazem feriado por estas alturas. Mas até Timor-Leste, bem lá longe, mantém a tradição secular dos feriados cristãos.

Pouca gente sabe que a tradição antiga dos ovos de Páscoa vem do politeísmo, como símbolo da fertilidade, e que se trocavam ovos no equinócio da primavera. As amêndoas tinham o mesmo efeito, tendo sido popularizadas no séc. XVI com a introdução do açúcar na Europa (no tempo dos romanos eram mergulhadas em mel… também devia ser bom).

Preguiça também, vimos na Assembleia da República nesta semana. Estava capaz de jurar que só iríamos ter presidente da Assembleia depois da Pascoela, mas para não dar muito trabalho a discutir acordos, vamos ter pela primeira vez na história uma presidência bipartida. Melhor seria terem deixado António Filipe que fez um excelente trabalho como interino, mesmo sendo do PCP.

Nesta Páscoa, aos crentes, resta-nos desejar que da Paixão, morte e ressurreição do Senhor, resulte a salvação do nosso país.

 

Diretor do Instituto Mundo Lusófono

Artigo publicado na edição do NOVO de sexta-feira, dia 29 de março