Durante os terríveis meses do confinamento, quando achávamos que a gripe espanhola entre 1918 e 1920 era uma história in illo tempore, demo-nos conta de que iríamos ficar trancafiados em casa por algum tempo e que tudo à nossa volta era silêncio e desolação. Com o princípio do fim desta medida, começámos todos a pôr a cabecinha de fora para ir espairecer para algum lado, tipo os caracóis depois da chuva.

Uma das poucas brilhantes ideias que já vi serem implementadas foi a parceria entre os governos regionais da Madeira e dos Açores, com a TAP, a SATA e alguns centros de testagem.

Assim, após preenchermos um questionário exaustivo, com bilhete na mão e comprovativo de alojamento, poderíamos ir de férias para as ilhas, com total segurança para todos. Lembro-me com imensa felicidade quando comprei bilhetes e alojamento no Funchal naquele agosto de 2020 e testei negativo para o SARS-COV2.

E lá fui eu, pela milésima vez para o “rochedo”, mas com a satisfação de quem viaja pela primeira vez. E a Madeira surtiu o efeito desejado na perfeição, sempre com aquele formigueiro da aterragem e descolagem naquele aeroporto Cristiano Ronaldo, que parece um porta-aviões.

A Madeira e o Porto Santo, são referência de férias, alegria e descanso para uma imensidão de pessoas espalhadas pelo mundo. A localização, o clima, a beleza natural dos jardins e paisagens, aquele mar com água quase quente, a comida e a simpatia das gentes tornam inesquecível a estadia naquelas paragens.

Mas a Madeira sempre foi um local de eleição – tanto que a Imperatriz Sissi da Áustria por lá passou para respirar bons ares e o Imperador Carlos I está sepultado na magnífica Igreja de Nossa Sr.ª do Monte, à qual podemos aceder por teleférico desde o centro do Funchal. Também Churchill ficava maravilhado com esta pérola do Atlântico e era um habitué do Reids Palace, hotel emblemático nesta cidade, juntamente com o Casino Park, desenhado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.

Pessoalmente sou fã do Cliff Bay, pois fica situado um pouco longe da confusão, com uma vista maravilhosa e um staff imbatível. Para os apreciadores da alta gastronomia, é no Reids e no Cliff que existem os dois únicos restaurantes com estrelas Michelin da ilha, o Williams e o Il Galo d’Oro respetivamente.

Em maio, a Madeira é famosa pela festa da flor, com as ruas todas enfeitadas, os desfiles alegóricos e uma paisagem que grita “Spring has sprung”. A 1 de janeiro, o famoso fogo-de-artifício na Baía do Funchal atrai visitantes e navios de cruzeiro dos quatro cantos do mundo, enquanto o Carnaval, no mês seguinte, tem desfiles à brasileira. E lembramo-nos, com saudade, dos bons tempos de Alberto João Jardim a desfilar pela Avenida fora.

Diretor do Instituto Mundo Lusófono
Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 9 de março