A Pera Rocha é a “rainha do Oeste”. Não é só o símbolo da região Oeste, é uma fruta com lugar de destaque na mesa dos portugueses. Em média, cada português come 6,3 kg de pera por ano. É o quarto fruto mais consumido em Portugal! Para além disso, é um dos produtos agrícolas nacionais mais exportados, com cerca de 60% da produção nacional a ir para fora. Os principais destinos da pera portuguesa são o Brasil (20%), França (19%) e Reino Unido (16%). De salientar que a pera é dos poucos frutos em que Portugal produz uma quantidade superior à procura interna.

O Oeste tem, de facto, condições ímpares para dar a cor, a textura e o sabor à “nossa” Pera Rocha. Clima, relevo, humidade do ar, tipo de solo e vento influenciam a qualidade do produto final. A proximidade do mar tem papel preponderante. O Oeste é o terroir perfeito para garantir a polpa branca, firme e rija, doce e granulosa, com salpicado na casca, a carepa, marca distintiva desta pera portuguesa.

No entanto, no Oeste “só” existem cerca de 10.000ha de pomares de Pera Rocha, onde 5 mil agricultores produzem, em média, 175 mil toneladas de fruta anualmente. Portugal ocupa a 13.ª posição mundial no que respeita à área e a 18.ª relativamente ao volume de pera produzida. O maior produtor mundial de pera é, de forma muito destacada, a China. Na Europa, somos o 6.º maior produtor, após Itália, Bélgica, Países Baixos, Espanha e França.

Mas nem tudo são boas notícias. Nos últimos cinco anos, a produção nacional de Pera Rocha diminuiu mais de 20%. A última campanha foi a segunda consecutiva com perdas inesperadas dramáticas. Em 2023, a produção ficou-se pelas 100 mil toneladas. As árvores estão a sofrer os efeitos das alterações climáticas, sobretudo nos pomares de sequeiro, mas o maior problema são os efeitos de doenças para os quais os produtores não têm meios de combate.

A estenfiliose e o fogo bacteriano são as grandes dores de cabeça do sector. O futuro da produção da Pera Rocha está em risco! Também conhecida como a doença das manchas castanhas da pereira, a estenfiliose foi confirmada pela primeira vez em Portugal, na variedade de Pera Rocha, em 1996, assumindo atualmente situação epidémica na região do Oeste. Em 2016, foi criado pela Secretaria de Estado da Agricultura e Alimentação um Grupo de Trabalho para identificar linhas de investigação e experimentação necessárias ao estudo da doença, assim como para a monitorização do fungo e sensibilização/informação dos produtores. O Plano de Ação foi apresentado e foi aprovado pelo secretário de Estado, mas o financiamento para a execução do plano nunca foi aprovado.

Como atualmente não há um produto fitofarmacêutico – medicamento das plantas – que consiga resultados eficazes no combate à estenfiliose, este problema repete-se todos os anos. Nos anos piores, as perdas de frutos podem atingir 50% a 60%. Em anos “normais”, atingem-se perdas na ordem de 15% da produção nacional.

O fogo bacteriano é uma doença hoje incurável, causada por uma bactéria que, segundo o Ministério da Agricultura, foi oficialmente identificada na região Oeste em 2010, num pomar de Alcobaça. Desde então, tem vindo a disseminar-se por toda a região, pelo que neste momento nada mais resta aos fruticultores do que adotar medidas preventivas para estancar o alastramento. Aos primeiros sintomas é necessário atuar de imediato, ou seja, o produtor tem de cortar, ou arrancar, as pereiras infetadas e queimá-las no local.

A gravidade da doença conduziu à existência de legislação específica que obriga à atuação dos produtores. No entanto, quando o pomar está muito afetado, alguns produtores abandonam a cultura e o pomar passa a ser um foco de disseminação da doença. Está criada uma rede colaborativa entre os técnicos de campo das Organizações de Produtores, a Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha e as câmaras municipais, para que os casos identificados sejam prontamente informados à Direção Regional de Agricultura e Pescas – agora integrada na CCDR – para que estes enviem inspetores fitossanitários ao campo e notifiquem os produtores. Este último passo é lento e atrasa o processo. Os serviços queixam-se de falta de recursos e os produtores desesperam.

O Centro Operacional e Tecnológico Hortofrutícola Nacional, com o apoio da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha, estimou, em novembro de 2023, a dimensão do impacto económico causado pelas alterações climáticas, pela estenfiliose e pelo fogo bacteriano, na fileira da Pera Rocha. Na última campanha, os impactos económicos ascendem a perto de 50 milhões de euros.

É fundamental que haja um verdadeiro empenho dos sectores público e privado para inverter esta tendência e este impacto. Ainda é possível fazê-lo. Mas, se nada for feito, que venha a ter resultados práticos no terreno, a Pera Rocha pode desaparecer do Oeste numa década.

Será o fim de mais uma monarquia, mas desta vez com sérios e graves impactos sociais e económicos.

Engenheiro agrónomo

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 16 de março