O Partido Comunista Português é, talvez, dos maiores intervenientes da história democrática portuguesa. Ilegalizado por uma ditadura que o perseguia, foi instrumental na queda do Estado Novo. Não obstante isto, os seus resultados eleitorais têm vindo a descer substancialmente, mesmo desde os tempos de Álvaro Cunhal. Então, o que aconteceu?

A queda da União Soviética foi, sem dúvida, um evento de enormes proporções na política internacional e na política interna de vários estados. A consequência natural do falhanço do projeto-piloto da sociedade socialista foi o enfraquecimento de virtualmente todos os partidos comunistas europeus; mas o que é facto é que não seria correto apontar o dedo apenas a Gorbachev pelos falhanços do PCP, que, no espaço das duas eleições legislativas que se seguiram à entrada de Portugal na CEE, em 1987 e 1991, perdeu 20 deputados.

Foi o abraçar definitivo da democracia ocidental (aquela que Álvaro Cunhal jurou que nunca se instalaria em Portugal) que matou o sonho dos comunistas portugueses – pelo menos estatisticamente falando. Nos anos que se seguiram, e mesmo com a crise de 2008 e o período da geringonça, o PCP não conseguiu melhorar o seu desempenho atual, caindo para uns meros seis deputados na Assembleia da República e o estatuto de sexta força política nacional. A sua maldição, então, é o seu próprio carácter.

O Partido Comunista Português está, para o bem e para o mal, a seguir o curso natural de virtualmente todos os partidos comunistas pós-queda da URSS (reiterando que, mesmo assim, os desenvolvimentos não se devem somente a este facto), que se mantêm na linha ideológica do marxismo-leninismo puro, duro e ortodoxo. Ao não conseguir reinventar-se – aliás, assumo que não tenha qualquer interesse nisso – o PCP passa por um grande dilema: a manutenção da linha ideológica manterá o eleitorado atual, mas não atrairá nenhum novo. Ao mesmo tempo, qualquer tentativa hipotética de mudança para atrair novo eleitorado ostracizará o eleitorado atual, quebrando a espinha dorsal do partido e fazendo do PCP algo que, na realidade, não é. Um partido marxista-leninista tem de sê-lo até ao fim, ou então não é marxista-leninista; e mesmo que estejamos perante um raro caso onde, em termos estratégicos, tanto a ideologia como o pragmatismo não têm surtido nenhum tipo de resultado, poderão existir algumas oportunidades para o PCP quebrar esta sua maldição.

Se imaginarmos, por um segundo, que a tal democracia ocidental (ou o capitalismo tardio) começa a falhar, a porta do materialismo histórico fica aberta para o PCP e a ortodoxia ideológica poderá voltar a ser solução. O grande problema para a causa comunista em Portugal é que, de facto, o protesto contra a democracia ocidental não se está a virar para a esquerda e, de qualquer das formas, o seu colapso e dos sistemas nacional e internacional de que fazemos parte seria catastrófico, prejudicial e contraproducente. Com o estado do partido, se perspetivas de mudança estão longe, uma revolução a sério está ainda mais.

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais