A educação não vai escapar às mudanças disruptivas que a inteligência artificial está a introduzir na nossa sociedade. Altera a maneira como aprendemos e a maneira como ensinamos.

Com o uso destas tecnologias, a aprendizagem pode hoje ser verdadeiramente personalizada, adequando os conteúdos aos perfis dos estudantes, ajudando os professores com a preparação de materiais dedicados, automatizando tarefas burocráticas.

Há ainda formas de usar a inteligência artificial para prevenir o insucesso escolar, antecipando quem pode ser vítima dele.  É, por exemplo, o caso do Projeto P.IA.ES – Modelação e Predição do Insucesso e do Abandono Escolar no Ensino Superior, desenvolvido em colaboração com a Agência para a Modernização Administrativa e o Instituto Politécnico de Portalegre.

A inteligência artificial coloca, igualmente, novos desafios ao ensino. Tecnologias baseadas em modelos fundacionais como o ChatGPT permitem aos alunos criar textos complexos sobre temas que não dominam, sem terem que fazer qualquer investigação para os escrever. Por outras palavras, quem quiser fingir que aprende tem na inteligência artificial um “aliado” que nenhuma outra geração teve antes.

Banir a inteligência artificial das salas de aula seria, no entanto, um erro. Estas tecnologias são parte do nosso presente e do nosso futuro. Professores e estudantes têm de aprender a viver com elas, saber usá-las para tirar o melhor partido das suas vantagens e conhecer os seus perigos. A inteligência artificial também precisa de ir à escola, estar na sala, participar nos exercícios e nos trabalhos de casa.

Dou-vos um exemplo vi no Twitter, publicado por uma investigadora universitária. Ela dizia que substituiu os ensaios que pedia aos alunos de licenciatura por um desafio à prova de ChatGPT: pede aos estudantes que escrevam o seu ensaio, que peçam ao ChatGPT para produzir o ensaio dele, e que façam depois uma comparação crítica de ambos.

Contudo, não podemos confiar cegamente nestas ferramentas, especialmente quando estamos a tentar preparar conteúdo baseado em factos. Parte do problema resolve-se tendo literacia suficiente, mas não chega. Precisamos de regulação para prevenir outros riscos.

É o que o Regulamento para a Inteligência Artificial, recentemente aprovado no Parlamento Europeu, procurou fazer, definindo níveis de risco diversos, mas também incentivando a inovação.

Como é que o Regulamento se liga à educação? Alguns dos sistemas utilizados na educação são considerados de alto risco. Para dar dois exemplos simples de compreender, qualquer sistema utilizado para avaliação de estudantes será de alto risco e o mesmo acontece com qualquer sistema de triagem de candidatos para instituições de ensino. Estas aplicações ficam sujeitas a obrigações mais exigentes antes de serem colocadas no mercado, para termos a certeza, por exemplo, que não discriminam alunos mais pobres ou que fazem parte de minorias.

Em suma, só haverá desenvolvimento e implementação de soluções de inteligência artificial se pudermos confiar nelas, e só teremos confiança se pudermos compreender como funcionam e regular os usos que têm maior probabilidade de causar danos.