Enquanto se discute se há, se houve, se se quis que houvesse, mas não se conseguiu ou se alguma vez se pensou em haver um parecer jurídico para justificar uma demissão da CEO da TAP – em direto e ao vivo nas televisões – a questão mais importante para os cidadãos e contribuintes portugueses continua a passar ao lado.

É verdade que os governos e os ministros que os compõem têm um dever de responder com verdade – sempre, e não apenas quando estão perante uma comissão parlamentar de inquérito – e que as contradições e fugas para a frente dão excelentes títulos nos jornais, mas a questão principal continua lá e por resolver. Essa questão é a TAP e o seu futuro.

Já se percebeu que a direita – na altura, PSD e CDS – entendiam que a companhia deveria ser privada, porque achava que o Estado não tinha vocação para gerir empresas e, provavelmente, por considerar que o Orçamento do Estado não aguentaria muito mais tempo os gastos relacionados com a TAP.

Em finais de 2015, percebeu-se que a Geringonça de esquerda de António Costa entendia que a TAP era dos portugueses e que, por isso, deveria ser detida pelos portugueses, representados pelo Governo. E reverteu a privatização. Nesse dia, o cidadão português “assumiu” a responsabilidade por tudo o que tinha sido feito (ou mal feito) e tudo o que viesse a ser feito. A conta vai em mais de 5 mil milhões de euros.

E o mesmo governo que perguntava, nos debates parlamentares, se “o senhor deputado quer entregar a TAP outra vez aos privados?”, é o mesmo que agora se apressa a fazê-lo. É o mesmo que terá chegado a um entendimento secreto para atribuir um bónus de 20% ao acionista privado David Neeleman na venda das suas ações ao Estado.

Podem ter chegado tarde à realidade – de facto, o Estado gere muito mal as empresas, como se vê na Parpública, na Efacec, na Parque Escolar – mas agora já estão no caminho e a privatização deveria ser a principal preocupação de Fernando Medina, António Costa e João Galamba. Deveria estar a decorrer um processo tranquilo de escolha do melhor interessado, preservando o valor/marca da companhia. Não é isso que se vê.

Às ingerências múltiplas do Governo, às estratégias erráticas, aos gestores corridos a pontapé, às nomeações ao arrepio das mais elementares regras, às contas anuais mal explicadas junta-se, agora, uma pressa enorme para vender. Desde quando é que a pressa favoreceu quem está a vender?

Alguém que explique rapidamente aos decisores políticos que é o dinheiro de todos que está metido na TAP, que são as vidas de mais de 7.000 funcionários da companhia que estão em causa e que não podem tratar o seu futuro com a mesma leviandade com que têm gerido este dossier nas últimas semanas.