A humanização da política é urgente em tempos de polarização e desconfiança nas instituições democráticas, não pode ser tratada como uma ferramenta de marketing, um mero artifício retórico usado por políticos para conquistar eleitores. Em cenários onde o discurso político é frequentemente moldado por estratégias de comunicação e manipulação da imagem, é essencial resgatar o papel transformador do indivíduo e da sociedade na construção de uma política autêntica e humanizada. Questiono-me se estamos nós nesse caminho?
Mais do que uma simples gestão de poder, a política deveria ser um espaço onde as necessidades humanas, a dignidade e o bem-estar de todos os cidadãos são colocados em primeiro plano. No entanto, a prática política distancia-se muitas vezes dessa premissa, privilegiando jogos de interesses, disputas partidárias e a manutenção do status quo. É essencial, portanto, resgatar o sentido de serviço público e comprometimento com o coletivo, aproximando a política das pessoas que ela deve representar, para não observarmos “gritos de revolta” nas urnas de voto, mas esta dimensão é um alerta a todos os partidos políticos do bloco central, que estão desfasados das novas realidades e das novas gerações.
Humanizar a política significa colocar o ser humano como a prioridade nas decisões governamentais, ao invés de estatísticas frias ou índices económicos que muitas vezes não refletem a realidade da população. Trata-se de garantir que as políticas públicas atendam às necessidades reais da sociedade e a atual política habitacional é um sinal positivo, considerando as suas particularidades e complexidades. O combate à desigualdade social, o acesso à educação de qualidade, a saúde pública eficiente e a proteção dos direitos humanos são pilares que devem sustentar uma política verdadeiramente humanizada e toda a sociedade.
É necessário que os representantes políticos eleitos sejam mais empáticos e próximos das bases, escutando as reivindicações populares e propondo soluções que estejam em sintonia com a realidade atual de todos os grupos sociais, especialmente os mais vulneráveis, e aqui preocupa-me particularmente os jovens e os idosos.
A política humanizada rejeita a visão tecnocrática que trata as pessoas como números e dados e tem como pedra basilar promover um diálogo constante entre governo e sociedade, um canal não só necessário, mas crucial, porque as palavras leva-as o vento, é assim necessária ação, operacionalização e concretização e temos observado alguns movimentos do atual governo nesse sentido. Além disso, a humanização da política exige transparência, ética e a participação ativa dos cidadãos no processo de decisão. É preciso incentivar a cidadania crítica, onde cada indivíduo seja parte integrante e agente de transformação no cenário político. Somente com uma sociedade mais envolvida, que cobra e participa, é possível construir um ambiente político mais inclusivo, democrático e que realmente atenda às necessidades coletivas. É imprescindível assim que indivíduo sociedade assumam o seu papel de “fiscalização” na construção de uma política humanizada, onde os políticos não sejam tratados como figuras inatingíveis, mas sim como figuras comprometidas com as causas coletivas.
A humanização, neste sentido, não é uma ferramenta de marketing, mas uma prática quotidiana de aproximação entre o governo central e a sociedade, onde os interesses humanos prevalecem sobre os interesses políticos e eleitorais.
Nesse sentido, a reforma das instituições políticas também é imperativa. É necessário reavaliar os mecanismos de representatividade na assembleia e nas regiões, garantindo que sejam realmente eficazes em representar as regiões geográficas de Portugal como forma de combater o abuso de poder e outras dimensões.
A política humanizada não tolera privilégios para poucos, mas trabalha em prol da justiça social para todos. Como social-democrata acredito que a moderação e os valores de igualdade, fraternidade e liberdade são a base democrática e hoje observamos na Europa e no mundo, enfatizados também por novos meios de comunicação, um extremismo enorme face a diversos assuntos, sem termos todos os dados de avaliação, o que é perigoso e um sinal de alerta para toda a sociedade.
Humanizar a política é, em última instância, devolver à sociedade o protagonismo que lhe pertence. É reafirmar que a política deve ser feita com e para as pessoas, respeitando suas histórias, lutas e sonhos. Só assim, com empatia, diálogo e compromisso com a dignidade humana, poderemos avançar rumo a uma sociedade mais justa, solidária e democrática. A nossa ambição não pode esmorecer, é necessário mais e melhor para as próximas gerações, não só a nível económico como de valores transcendentes no espaço temporal.