Joe Biden anunciou na semana passada a intenção de assinar legislação que abra caminho para banir o TikTok. Esta quarta-feira, a Câmara dos Representantes aprovou por uma maioria expressiva – apenas 50 democratas e 15 republicanos votaram contra – uma lei que poderá, em breve, levar à proibição total da gigante chinesa de operar em solo americano. Esta legislação obriga a ByteDance, empresa estatal chinesa, a vender o TikTok nos próximos seis meses a uma entidade não sediada na China, caso deseje continuar a operar nos Estados Unidos. Caso contrário, a App Store e o Google Play serão legalmente impedidos de hospedar o TikTok ou fornecer serviços de hospedagem na web para aplicações controladas pela ByteDance.

Este é mais um passo na guerra “silenciosa” contra o poder económico chinês, depois do êxito em barrar o crescimento da Huawei no Ocidente, quando foi proibida a utilização do sistema operativo Android nos seus dispositivos móveis. No entanto, mais do que uma batalha económica, este confronto com o TikTok surge devido a preocupações com a segurança, dado que a aplicação poderá estar a ser utilizada para extrair dados dos mais de 170 milhões de americanos que a têm instalada nos seus telemóveis.

Ao contrário do que sucedeu com a Huawei, que não suscitou oposição do grande público, o mesmo não acontece com o TikTok, que é amplamente popular entre os mais jovens e utilizado também por vários políticos americanos. A própria campanha de Joe Biden mantém uma conta ativa. Vários congressistas que utilizam a plataforma têm-se oposto a esta medida, visto que é uma ferramenta crucial de comunicação com um público nem sempre fácil de alcançar.

A ascensão meteórica da plataforma tem alarmado sobretudo os serviços de segurança ocidentais, que acreditam que a empresa partilha dados sensíveis com o governo chinês e manipula a aplicação para influenciar a opinião pública a favor dos seus interesses. Recentemente, têm sido destacados vários conteúdos antiocidentais no TikTok, incluindo discursos de bin Laden e de Hitler, para criticar Israel e os Estados Unidos.

Apesar de o TikTok afirmar que não partilha dados com o governo chinês, poucos acreditam nesta afirmação. Os serviços de inteligência americanos alertaram que os dados dos utilizadores americanos têm sido acedidos por funcionários do governo chinês e um relatório interno recente destacou que a rede foi manipulada para prejudicar diversos candidatos nas últimas eleições intercalares, em favor de outros mais simpáticos às teses chinesas. E, em ano eleitoral, há novamente o receio de que tal venha a novamente a acontecer.

Donald Trump, que emitiu uma ordem executiva em 2020 a proibir o uso da aplicação em telemóveis do governo federal, manifestou-se agora contra esta lei, o que surpreendeu os republicanos que patrocinaram esta legislação. Esta mudança de posição terá acontecido após um encontro com o milionário Jeff Yass, que detém uma participação minoritária na empresa chinesa. A sua oposição não foi suficiente para impedir a aprovação da lei, mas Trump tentará agora influenciar os senadores republicanos a rejeitar a lei, uma vez que, segundo Trump, esta lei irá favorecer o Facebook, um dos seus alvos preferenciais.

Entre os opositores à lei encontram-se alguns dos mais fervorosos seguidores de Trump, como os congressistas Matt Gaetz ou Marjorie Taylor Greene, mas também vários democratas, como as congressistas Alexandria Ocasio-Cortez e Ilhan Omar, utilizadoras entusiastas da aplicação. No entanto, parece haver um consenso bipartidário suficiente para aprovar esta lei e exercer pressão sobre a empresa chinesa. Potenciais compradores parecem não faltar, caso a China ceda às pressões americanas. Será que até ao final do ano a empresa deixará a China capitalista? Esta é uma demonstração de força dos Estados Unidos, mas resta saber se Trump não irá atrapalhar este consenso, tal como ocorreu anteriormente em relação à Rússia.

Especialista em política norte-americana