O PS considerou hoje que equiparar as comemorações do 25 de Novembro às do 25 de Abril é um “caminho de reabertura de feridas há muito saradas”, enquanto o BE qualificou a sessão de “solene disparate”.
Nos discursos na primeira sessão solene de sempre do 25 de Novembro de 1975, no parlamento, o Livre defendeu que o que alguns estão a tentar fazer ao 25 de Novembro “não demonstra verdadeiro respeito nem pela data nem pela verdade histórica”, enquanto a deputada única do PAN alertou para o erguer de novas trincheiras.
Pelo PS, Pedro Delgado Alves citou o histórico Manuel Alegre – cujo poema “Abril de Abril” recitou para fechar a sua intervenção – para defender que “o 25 de Novembro não foi uma vitória da direita sobre a esquerda”.
“Hoje, a melhor forma de homenagear esta capacidade de ultrapassar as divisões é a de não reabrir as fraturas que sabiamente estas gerações fundadoras do regime democrático souberam superar, recusando revisionismos, vontades revanchistas ou provocações”, apelou.
O deputado reivindicou o papel determinante de Mário Soares e do PS para que “prevalecesse o caminho em direção à democracia pluralista”.
“O PS tem a legitimidade e autoridade histórica para recordar que, precisamente por não rejeitar por um instante o seu papel e a sua responsabilidade direta no sucesso do 25 de Novembro, a sua equiparação simbólica e cénica à comemoração da data fundadora do regime democrático é um caminho de reabertura de feridas há muito, e bem, saradas”, avisou.
Criticando quem “procura instrumentalizar ou reescrever o passado para alcançar ganhos efémeros no presente”, Delgado Alves condenou ainda a “estranha, incompreensível e injusta” ausência de referência pelos proponentes desta cerimónia ao Grupo dos Nove, evocando os seus nomes e gerando uma ovação pela parte do PS.
De cravo vermelho, Joana Mortágua – a única deputada do Bloco de Esquerda que marcou presença – defendeu que “a atual mistificação sobre o significado histórico do 25 de Novembro é uma manobra de derrotados de Abril”, salientando que foi a Revolução dos Cravos que deu “a democracia, as liberdades individuais e coletivas” e não o 25 de Novembro.
“Inventar um passado alternativo para Portugal serve apenas a mitologia de uma certa direita que pretende normalizar o regime social do Estado Novo através da diabolização do PREC”, disse, qualificando estas comemorações como um “solene disparate”.
“Esta sessão e as que se realizarem nos próximos dois ou três anos serão lembradas no futuro como o momento folclórico de um tempo bizarro, em que o PSD e a extrema-direita se aliaram no revisionismo histórico”, afirmou, numa intervenção aplaudida pelo PS.
Pelo Livre, Filipa Pinto, com um cravo vermelho na mão, considerou que o “que alguns estão a tentar fazer ao 25 de novembro não demonstra verdadeiro respeito nem pela data nem pela verdade histórica”.
“A história adulterada não pode ser uma arma de arremesso político. Há 49 anos evitou-se uma guerra civil. Não pela mão dos herdeiros do fascismo, mas sim pela mão de quem nos trouxe a liberdade”, criticou.
A deputada, numa intervenção aplaudida pela bancada do PS e apupada pela do Chega, considerou que “foi o 25 de abril que abriu as portas a tantas datas marcantes” e que o 25 de novembro de há 49 anos foi mais um dia que encaminhou Portugal para a democracia.
Já a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, que chegou à tribuna com um cravo vermelho na mão, salientou que o seu partido “sempre defendeu que é no dia 25 de Abril que deve caber a celebração de todos os momentos marcantes da Revolução”, incluindo o 25 de Novembro de 1975.
“Há precisamente 49 anos, o país estava entrincheirado, completamente dividido ao meio. (…) Hoje, olhamos para esta sala e vemos novamente trincheiras erguidas. Trincheiras fúteis, que não dignificam a memória dos capitães de Abril, que não honram a memória das pessoas que construíram Abril (…) e que, no final do dia, não resolvem um só problema das pessoas”, afirmou.