O sistema eleitoral americano está podre. Se calhar sempre o foi e apenas o constatámos em circunstâncias excecionais como o foram as derrotas de Al Gore e Hillary Clinton. Mas é dele, aliás, que resulta esta infeliz reeleição de Donald Trump.

E porquê?

Vivemos um período largamente diferente da sua primeira eleição, certamente, mas tal se deve a dois fatores mutuamente complementares: o sistema que se alimenta das pessoas e as pessoas que se alimentam do sistema.

O método eleitoral amplamente utilizado de “first past the post” com colégio eleitoral favorece e prioriza o bipartidarismo e o voto “útil”, com a escolha a ser essencialmente entre as duas maiores forças políticas e nelas o “mal menor”, com qualquer voto fora deste binário a ser um voto a favor do “mal maior” percecionado.

Por outro lado, quem alimenta o sistema e dele se alimenta também joga em torno da sua dinâmica errónea e do ciclo de ação e reação. Quer isto dizer que, havendo somente dois lados em jogo, qualquer ação de um influencia necessariamente a reação do outro. Trump tomou de assalto o Partido Republicano, tornando-o num partido Trumpista. Assim, tornou o Partido Democrata, essencialmente, no campo anti-Trump.

É essa a grande falha do bipartidarismo americano; talvez seja a falha do bipartidarismo na sua generalidade. Favorece o voto ao centro apenas se nenhum dos seus intervenientes se afastar do mesmo. Caso isso aconteça, o centro descentra-se – tendencialmente para quem puxou a corda primeiro.

O bipartidarismo institucionalizado, no caso, com vitórias e derrotas absolutas em termos de representação, é amplamente diferente do bipartidarismo de ocasião como o que acontece em Portugal, mesmo com todas as questões e problemas de representatividade nele incluídos.

A diferença é que, mesmo com um favorecimento do centro político, a existência inerente de proporcionalidade representa – bem ou mal, não me cabe a mim opinar – a vontade popular. A institucionalização do bipartidarismo deita ao lixo os votos dos derrotados e deixa o futuro à mercê de quem o desvirtua. Tanto que com a polarização, a máxima é uma: não lutes com um porco na lama, que ele ganha em experiência… não que o Partido Democrata tenha tido escolha.

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais