Chegamos a novembro com uma das eleições mais renhidas da história americana, refletindo um país profundamente dividido e uma contenda pelo poder de proporções épicas. Com as sondagens a indicarem um empate técnico, a atenção concentra-se nos swing states, especialmente na Pensilvânia, que poderá ser determinante para o desfecho desta eleição. Quem sairá vitorioso? Há argumentos sólidos para ambos os lados encararem com confiança esta reta final. Raramente uma disputa se manteve tão acirrada até aos últimos momentos, pois, normalmente, nos dias finais da campanha, uma tendência começa a desenhar-se, mesmo que equivocada, como em 2016, quando Donald Trump surpreendeu o mundo com a sua vitória. Este ano, contudo, não é o caso.

Atribuir favoritismo claro a qualquer dos lados parece ser uma mera expressão de desejo. A campanha termina com probabilidades praticamente iguais para ambos e, salvo algum fenómeno não captado pelas sondagens, a vitória decidir-se-á por uns poucos milhares de votos nos sete célebres swing states. De facto, salvo um breve período após o debate desastroso de Joe Biden antes de se retirar, a corrida manteve-se equilibrada, com oscilações constantes entre democratas e republicanos. A pequena vantagem inicial de Kamala Harris no plano nacional esbateu-se nas últimas semanas, sobretudo nos swing states, onde a luta por cada voto é intensa.

A chamada “Blue Wall” – composta pela Pensilvânia, Michigan e Wisconsin – representa um desafio vital para Harris, pois qualquer desvio poderá dar a Trump o impulso necessário para regressar à Casa Branca. Segundo analistas como Scott Tranter e Nate Silver, quem vencer na Pensilvânia verá as suas hipóteses de conquistar a presidência aumentarem significativamente, com probabilidades estimadas entre 85% e 90%. Este estado tem sido o alvo preferencial de ambas as campanhas, que intensificaram esforços tanto nas áreas urbanas, dominadas pelos democratas, como nas zonas rurais e suburbanas, onde prevalece a tendência republicana.

Outro ponto crítico nesta eleição é a divisão do voto feminino, que favorece Harris, e do voto masculino, que pende mais para Trump, sobretudo entre os jovens e minorias étnicas. O voto antecipado tem beneficiado Harris, especialmente em estados como Michigan, Carolina do Norte, Geórgia e Pensilvânia, onde 55% dos votos antecipados são de mulheres, o que representa um diferencial de 10 pontos percentuais face aos homens.

Contudo, convém lembrar o que sucedeu em 2020: Donald Trump registou uma afluência massiva no dia das eleições, quase revertendo o favoritismo de Joe Biden. Embora os republicanos tenham este ano mobilizado o voto antecipado, a sua força histórica reside no voto presencial, e este ano não deverá ser exceção. Até sexta-feira, cerca de 63 milhões de eleitores já tinham votado, mas as margens de conforto de Harris poderão ser diluídas pelos republicanos no dia da votação.

O que poderá definir esta eleição? Na última semana, três acontecimentos – erros não forçados de ambos os lados – parecem ter uma influência potencial no desfecho. A piada sobre a “ilha de lixo” de Porto Rico, que gerou uma onda massiva de apoio a Harris entre a comunidade latina, poderá reduzir o voto em Trump em estados como a Pensilvânia, Nevada e Arizona. O comentário de Biden sobre os apoiantes de Trump, novamente associado ao “lixo”, poderá reforçar a mobilização dos eleitores a favor do republicano. Por outro lado, nos comícios recentes, Trump fez um ataque polémico às mulheres, afirmando que as “protegeria, quer elas quisessem ou não” – um comentário que pode impactar negativamente a sua imagem junto deste eleitorado.

Muito ainda poderá ocorrer neste fim de semana, mas é fundamental ter isto em conta: nas duas últimas eleições, os eleitores que decidiram o seu voto nos últimos três dias optaram, em grande medida, por Trump. Se esta tendência se mantiver, ele poderá sair vencedor. Se Harris conseguir inverter essa trajetória, fará história como a primeira mulher a ocupar a Casa Branca.

Especialista em política norte-americana