Ricardo Salgado, de 80 anos, chegou hoje ao Campus de Justiça (Lisboa) pouco antes da hora prevista para o início do julgamento e foi confrontado diretamente por um lesado da falência do banco. O antigo banqueiro chegou às 9h20 amparado pela mulher e com o advogado Francisco Proença de Carvalho, demorando cerca de 10 minutos a fazer um curto percurso até à entrada do tribunal.

Rodeado por dezenas de jornalistas e alguns lesados, Ricardo Salgado foi interpelado por Jorge Novo, lesado do BES, que disse que ex-banqueiro “tinha capacidade para resolver a problema dos lesados”.

“O seu primo Ricciardi testemunhou aqui na porta, dizendo que foi feita uma provisão. O senhor mandou-nos um documento escrito de que deixou uma provisão. Onde está a provisão do Novo Banco? Onde está a provisão? Eu estou sem o meu dinheiro. Eu exijo a provisão que é dos lesados. Respeito”, disse de forma exaltada.

Pedindo responsabilidades, o comerciante que perdeu mais de 100 mil euros afirmou, no entanto, que Ricardo Salgado “merecia respeito”.

“Tomaram posse do seu império. (…) Novo Banco, CMVM, um grupo de trabalho liderado por Diogo Lacerda Machado fizeram uma solução para os lesados sem a consulta de nenhum lesado, quando tínhamos uma provisão deixada por Ricardo Salgado. Esses senhores aproveitaram-se de um grupo de trabalho para tratar da vida deles, dos bolsos deles e continuam a faturar”, criticou.

Ricardo Salgado ouviu este lesado sem qualquer reação, enquanto o advogado disse apenas que falaria com a comunicação social no final.

O julgamento do caso BES/GES estava previsto para as 9h20 no Juízo Central Criminal de Lisboa.

Este julgamento acontece 10 anos após o colapso do Grupo Espírito Santo, num caso com mais de 300 crimes e 18 arguidos, incluindo o ex-banqueiro Ricardo Salgado.

Atualmente com 80 anos, o ex-banqueiro foi o principal rosto do Grupo Espírito Santo e liderou durante mais de duas décadas o BES, até ser forçado a sair da presidência da instituição por pressão do Banco de Portugal, em junho de 2014. Dois meses depois, em agosto, foi anunciada a resolução do BES, seguindo-se o colapso de um grupo presente em quase todos os setores da economia.