A discussão em torno da votação do Orçamento do Estado tem dado que falar na esfera política nacional, não pelas melhores razões – o que era, desde já, expectável. O que não era expectável é que a atuação do Partido Socialista se transformasse em política kamikaze, em que o seu desaire nos arrasta a todos, invariavelmente, para baixo, para a lama política onde o vencedor é um apenas.
Verdade seja dita, este modus operandi não é inédito, se bem que em circunstâncias largamente diferentes: a política do “ou nós ou ninguém” já tinha sido utilizada no rescaldo das eleições legislativas de 2015 e em toda a campanha pré-eleições legislativas de 2022, mas Pedro Nuno Santos é, para todos os efeitos, mais inexperiente e, pejorativamente, mais sangue na guelra do que António Costa.
Luís Montenegro já avisou que não governa em duodécimos. Caso Pedro Nuno Santos não viabilize o Orçamento do Estado, o cenário mais certo é que teremos, mais uma vez, eleições antecipadas. O Partido Socialista ainda não está preparado para ganhá-las e, portanto, o que acontecerá será, invariavelmente, inútil para todos, exceto para o Chega, que terá mais uma oportunidade de gritar “Vitória”.
No seguimento da alteração do regime fiscal proposto pelo PSD – que, admitidamente, tem pouca margem de manobra e de negociação –, o chumbo do Orçamento do Estado seria o cúmulo do slalom político. Já se adivinham as acusações de não fazer pelo crescimento económico do país, quando as medidas nesse sentido são constantemente chumbadas a um governo minoritário; já se adivinham as acusações de ajuntamentos entre direita democrática e extrema-direita, quando a estratégia política do Partido Socialista passa pelo crescimento do Chega para dividir a direita e colmatar a ameaça do PSD.
Portanto, neste sentido, a mensagem tanto para o PS como para o eleitorado em caso de eleições antecipadas é uma: se não pelo bem maior de quem reúne condições de governar, ajam em prol do mal menor.
Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais