O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Portugal já exigiu às autoridades guineenses um “esclarecimento cabal” sobre as agressões da Polícia de Intervenção Rápida ao repórter de imagem da Lusa.

Em resposta ao NOVO, fonte oficial do MNE apontou que o Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, telefonou ao repórter da Lusa a pedir desculpa pelo sucedido.

O repórter de imagem da Lusa em Bissau, Júlio Oliveira, foi agredido por elementos da Polícia de Intervenção Rápida, domingo, pelas 18:20 locais, quando estava a filmar uma caravana de apoio ao presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Domingo Simões Pereira, que regressou ao país depois de sete meses no estrangeiro.

Além de agredido, Júlio Oliveira foi forçado a apagar as imagens que tinha recolhido e a polícia tentou forcá-lo a entrar numa carrinha para ser conduzido a uma esquadra, o que acabou por não acontecer.

“Tendo tido conhecimento de que o repórter de imagem da Lusa em Bissau terá sido atacado por elementos da Polícia de Intervenção Rápida, o Ministério dos Negócios Estrangeiros rapidamente iniciou diligências a vários níveis com as autoridades para apurar factos e exigir um esclarecimento cabal sobre o ocorrido”, disse fonte oficial do ministério liderado por Paulo Rangel ao NOVO.

“Portugal lamenta este incidente, apresentou a sua posição às autoridades da Guiné-Bissau e toma boa nota das diligências efetuadas, que produziram já resultados, desde logo o facto de o Presidente da República da Guiné-Bissau ter telefonado ao repórter de imagem a pedir desculpa pelo que aconteceu”, acrescenta.

A Direção de Informação da Lusa e também o Conselho de Redação condenaram o sucedido.

O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Bubacar Turé, defendeu que os agentes da polícia que agrediram o repórter da Lusa devem ser responsabilizados e “eventualmente” afastados da corporação.

“É a única forma de mostrar que o Estado não compactua com esse tipo de comportamento”, enfatizou.

Numa referência aos incidentes, o presidente da ANP sublinhou, ainda no domingo, a anormalidade de situação que a Guiné-Bissau vive.

“Eu cheguei e estava convencido que estava tudo normal. De repente, dou conta de que há bloqueios de acesso às pessoas ao aeroporto”, observou Simões Pereira. “Há jornalistas que foram agredidos, há jornalistas aos quais foram subtraídos os materiais que tinham utilizado para o seu trabalho”, acrescentou.

Umaro Sissoco Embaló dissolveu a ANP a 4 de dezembro, na sequência de um confronto armado entre a guarda da Presidência e a Guarda Nacional, que rotulou de tentativa de golpe de Estado. Isto aconteceu apenas cinco meses depois das eleições legislativas que a coligação PAI – Terra Ranka venceu com maioria absoluta e, na sequência da dissolução, o governo foi também demitido e empossado um novo, de iniciativa presidencial. Rui Duarte de Barros, antigo ministro da Economia, foi escolhido para chefiar a equipa governamental. Era o presidente do conselho de administração da ANP e que foi eleito nas listas do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que, no entanto, não reconhece o governo.

Depois das eleições, o PAI – Terra Ranka, liderado pelo PAIGC, que conquistou 54 dos 102 lugares na ANP, aliou-se ao Partido da Renovação Social (PRS), que obteve 12 mandatos, e ao dos Trabalhadores da Guiné (PTG), com seis deputados, formando uma maioria parlamentar superior a dois terços, que sustentava o governo.

Domingos Simões Pereira foi o candidato derrotado por Sissoco Embaló nas últimas presidenciais e liderada o PAI – Terra Ranka.