O que têm em comum o assalto aos Paióis Nacionais de Tancos, em 2017, o furto de computadores na Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, há escassos dias, e, a recente fuga de cinco perigosos reclusos do Estabelecimento Prisional de “Alta Segurança” de Vale de Judeus?
Rocambolesco, por se tratar do centro nevrálgico do que é o Estado (tudo infraestruturas críticas, de segurança máxima e de três Ministérios de soberania), por revelar a falta de investimento num das funções fundamentais do Estado – a segurança -, por não garantir votos imediatos, e, por deixar a descoberto a estrutural falta de uma cultura de segurança no nosso País, que o envergonha perante parceiros e aliados internacionais.
Num País que não dispõe de um baixo “ratio” de efetivos policiais por número de habitantes, antes pelo contrário, mas tem, sim, e à imagem de outras áreas da governação, uma péssima organização dos seus recursos humanos e uma ancestral e atávica cultura corporativa, anos e anos de desinvestimento – sendo que nos últimos oito, por pura cegueira ideológica – levaram a que a autoridade do Estado (e dos profissionais que a têm de exercer por missão) fosse totalmente desmantelada.
A piada faz-se por si mesmo, contudo, um estabelecimento prisional – dos mais importantes do País – sem diretor (há meses), sem chefe dos guardas, sem torres de vigia (há anos), e, sem rede eletrificada (porque o quadro elétrico dos anos 60 não aguenta), é mais do que um convite à fuga, para mal da nossa imagem internacional.
Por outro lado, é bastante curiosa (e reveladora) a reação das esquerdas, tão estridente e vocal nalgumas matérias, mas, neste particular, tão envergonhada, e, marcadamente ideológica.
Não aprendem mesmo.
Quem tem qualquer noção (por mais ténue que seja) de cultura de segurança sabe bem que com esta não se brinca, pois ela não reconhece postos, nomes ou “facilidades habituais”.
O habitual jargão nacional de “um dos países mais seguros do Mundo” (ainda e só graças ao profissionalismo e carolice dos homens e mulheres das forças e serviços de segurança) cairá assim em breve, à imagem de muitos outros mitos, por terra, com esta sucessão de caricatos episódios.
Sendo que, a juntar à burocracia e lentidão da justiça (que afasta investimento direto estrangeiro) poderá fazer colapsar a “galinha dos ovos de ouro” da nossa economia recente – o Turismo – à imagem do que sucedeu em muitos outros Países.
Mas, pior ainda que a triste sucessão de episódios, é a falta de quaisquer lições (aprendidas ou não) ou medidas em consequência dos mesmos. Foi assim a seguir ao episódio de Tancos, na Defesa, e, caso não haja mudanças profundas, assim será na Administração Interna e na Justiça no seguimento destes dois grotescos incidentes.
A gritante falta de peso político dos sucessivos titulares destas pastas, desvalorizando o que não pode ser desvalorizado, com a sucedânea falta de sensibilidade para as matérias em questão, leva a que estas sejam tratadas como todas as outras do Estado moderno – gestão (a curto prazo) de expetativas das corporações e de tesouraria.
Urge valorizar estas áreas, não apenas com circunstanciais aumentos salariais, mas, valorizando-as, criando atratividade e dignificando-os porque sem elas, não existiria, não existe ou existirá Estado soberano.