Fernando Madureira disse ao juiz Pedro Miguel Vieira, aquando da sua detenção no âmbito da Operação Pretoriano, que vendeu um prédio na zona da Batalho, no Porto, por um milhão e meio de euros, escreve o Correio da Manhã (acesso pago) esta sexta-feira. Segundo o antigo líder dos Super Dragões, o valor foi repartido a meias com o sogro.
Além da venda do imóvel, Fernando Madureira contou também ser dono de um alojamento local avaliado em três milhões de euros, a que se soma a casa que está a construir em Vila de Nova de Gaia, no valor de dois milhões, que alega querer vender a um jogador do FC Porto.
Este depoimento de Fernando Madureira entra em contradição com as declarações prestadas anteriormente, noticiadas em julho deste ano, quando admitiu aos juízes do Tribunal da Relação do Porto que vivia à custa dos Super Dragões, nomeadamente através da “venda de bens, os quais classificou de produtos de merchandising, tendo sido apreendida uma quantia monetária avultada (41.820 euros), a qual se [encontrava] escondida na casa dos arguidos Fernando e Sandra Madureira”, conforme escreveram, na altura, os magistrados, na resposta ao pedido de alteração da medida de coação feito pelo ex-líder dos Super Dragões.
Catão desmente Madureira e aponta dedo a Caldeira
Estas declarações entram também em contradição com o depoimento de Vítor Catão, outro arguido na Operação Pretoriano, que, dias antes de ser acusado, garantiu que Fernando Madureira tinha especial interesse na aprovação dos novos estatutos do FC Porto, na Assembleia Geral Extraordinária de 13 de novembro do ano passado, porque iria permitir aumentar a fonte de rendimento da claque azul e branca.
“Ele queria ganhar mais dinheiro dos bilhetes, toda a gente sabe, isto é verdade. Quem é que ia ganhar dinheiro? Quem é que ia ganhar milhões? Era o senhor Fernando Madureira. E, claro, os dirigentes do FC Porto”, explicou Vítor Catão, citado pelo Correio da Manhã.
Mas Fernando Madureira não foi o único a quem Vítor Catão apontou o dedo no seu depoimento. O conhecido adepto do FC Porto revelou aos juízes que Adelino Caldeira, antigo administrador da SAD azul e branca, também tinha especial interesse na aprovação dos novos estatutos do clube.
“O Adelino Caldeira tem um escritório de advogados, quando o escritório trabalha para o FC Porto, quando ele é diretor da SAD do Porto. Se forem ver ao relatório de contas, caíram 50 milhões de euros ao Caldeira por trabalhos que ele fez ao Porto. Eu não sou maluco”, denunciou.
Vítor Catão já tinha denunciado, em julho, que Adelino Caldeira, na altura vice-presidente do clube, estava ao corrente do plano para silenciar sócios do FC Porto apoiantes de André Villas-Boas (acesso pago) durante a Assembleia Geral Extraordinária.
Influenciador-angariador de sócios para Madureira
Na audição, Vítor Catão contou ainda que Fernando Madureira lhe pediu para arranjar “cem pessoas” para a Assembleia Geral Extraordinária do FC Porto, para votar a favor da aprovação dos novos estatutos do clube, devido à sua popularidade nas redes sociais e junto dos adeptos azuis e brancos.
Vítor Catão explicou que dizia sempre “sim” e “amén” aos pedidos do então líder Super Dragões, mas alegou que não tinha qualquer intenção de aceder ao pedido de Fernando Madureira.
Vítor Catão também se contradiz
Sobre Sandra Madureira – mulher de Fernando Madureira e ex-vice-presidente dos Super Dragões, que está obrigada a apresentações periódicas nas autoridades –, Vítor Catão garantiu que só a ouvir a insultar os apoiantes do agora presidente do FC Porto.
“Dizia que os que apoiavam o Villas-Boas eram uns filhos da p*** de uns badalhocos”, recordou, contradizendo o que tinha confiado a um amigo, depois dos desacatos na Assembleia Geral Extraordinária de 13 de novembro do ano passado: “A badalhoca da mulher dele a fazer o que fez: bater a uma senhora, roubar-lhe o telemóvel, partir-lhe o telemóvel. E depois a senhora levanta-se e ela dá-lhe outro pontapé. E se soubessem… a filha o que fez. Então vocês fugiam”.
No mesmo testemunho, Vítor Catão contou ao amigo que achava que Fernando Madureira tinha passado das marcas e que seria ostracizado do clube: “No pavilhão disse [a Fernando Madureira]: ‘Não te mostres. Berrar todos nós podemos berrar’. Mas ele f****-se. Há um dia em que nós morremos e não duvides que morreu para o [FC] Porto. Acabou”, comentou na altura.
A reunião muito importante de condomínio
Outro momento protagonizado por Vítor Catão aconteceu durante a apresentação da candidatura de André Villas-Boas à presidência do FC Porto, a 17 de janeiro, na Alfândega do Porto. Na altura, o adepto portista esteve à porta do evento, a filmar e insultar os adeptos que participaram.
Confrontado com o conteúdo dos vídeos, Vítor Catão apresentou a sua versão do que aconteceu: “Tive muito gosto de estar lá. O Jorge Costa até me convidou para entrar. Só não fui porque tinha uma reunião muito importante de condomínio. Se não fosse isso, eu ia na boa”, explicou.
Catão teme pela própria vida
Na mesma audição, Vítor Catão confessou aos juízes que teme pela própria vida: “Tenho medo que me matem. Peço que me deixem em casa, três, quatro, cinco, dez anos, até eu morrer, não me importo. Eu sei que se um dia eu for para uma cadeia, eles vão-me matar. Eu sei o ódio que eles me têm, é que fui eu que transmiti esta coisa toda de ‘comer’ bilhetes”, contou, citado pelo Correio da Manhã.
Recorde-se que Fernando Madureira se encontra em prisão preventiva enquanto aguarda por julgamento. Vítor Catão está em domiciliária, depois de ter estado em preventiva na cadeia de Aveiro. A juíza de instrução decidiu manter as medidas de coação por entender que existe risco de pressão dos dois arguidos sobre as testemunhas na Operação Pretoriano.