O mediatismo dos acontecimentos faz com que a atualidade seja debatida na comunicação social. Quando chega à comunicação social os temas ganham maior importância, porque estão na ordem do dia, passam a ser discutidos pelas pessoas e isso faz com que muitas vezes os políticos tomem decisões que deviam ser óbvias, como é o caso do novo hospital de Lisboa.

Veja-se como há algumas horas, depois do abanão que sentimos, a polémica sobre o isolamento sísmico daquele novo equipamento que vai ser construído de raiz foi ressuscitado pela comunicação social e agora o Governo já veio confirmar que o novo hospital de Lisboa Oriental que vai agregar os serviços de 7 hospitais do centro da capital, afinal vai ter um isolamento contra sismos, acatando a indicação que tinha sido feita pelo Tribunal de Contas. Este é só um pequeno/grande exemplo do poder da comunicação social e do jornalismo livre e independente.

Um jornalismo livre e independente escrutina e informa, sendo essencial em qualquer democracia liberal. Se deixar de ser livre e independente passa a estar ao serviço de quem exerce o poder e deixa de ser jornalismo, passando a ser propaganda, à semelhança do que havia na época da ditadura de Salazar com o seu célebre lápis azul.

O terramoto veio abafar a polémica que se tinha instalado sobre a deliberação da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social – relativamente à entrevista a Marta Temido na campanha das Europeias, pelo jornalista José Rodrigues dos Santos, que convido todos os leitores a rever, até para que possam retirar as suas próprias conclusões.

José Rodrigues dos Santos entrevistou os candidatos dos diferentes partidos com perguntas assertivas, que punham em causa a ideologia defendida por todos eles, sem incumprir o código deontológico que o rege. Era insistente com quem tentava fugir à pergunta e isso faz com que se perceba melhor quem está e quem não está preparado.

Marta Temido claramente não estava preparada, mas o que mais saltou à vista foi a agressividade e a falta de noção de quem não está habituado a ser confrontado. Aquela entrevista correu-lhe mal e expôs todas as suas fragilidades.

O assunto teria ficado ali se não viesse agora a entidade que regula a comunicação social emitir uma deliberação, que mais parece ser um ato de censura ao jornalista.

O ponto 2 desta deliberação diz: “Verificar que, na entrevista analisada, não foi conferido espaço à entrevistada para expor os seus pontos de vista.”

Ora, na pergunta sobre o facto de Portugal estar a ficar para trás face a outros países europeus que nos têm ultrapassado, Marta Temido que estava impreparada repetiu várias vezes: “olhe que não”.

Não deu dados que poderiam sustentar o seu: “olhe que não”, até porque não os tinha e unicamente, porque eles não existem. O comportamento até causou alguma pena, porque a candidata do PS visivelmente transtornada mexia nos seus papeis na tentativa de sustentar o seu: Olhe que não”.

Segundo a ERC, a candidata do PS deveria ter tido mais tempo para repetir pela nona vez, o “olhe que não”? ou que espaço gostariam que lhe tivesse sido dado? Isto porque a candidata, hoje eurodeputada do PS, foi confrontada com uma pergunta sobre a qual não quis responder. Fugiu a essa questão e desmentiu os dados que lhe estavam a ser apresentados, mas sem nunca os rebater. Onde ficaram os factos da resposta? Onde é que ficou o nosso direito a sermos informados pela própria? Onde é que ficou a responsabilidade do esclarecimento, por parte da entrevistada? Onde é que não teve espaço para expor os seus pontos de vista, quando foi a própria que disse que não conseguia “fazer debates com todos”? Esta semana ficou marcada por mais uma trapalhada com a ERC assumir que existiu um erro de transcrição na deliberação contra José Rodrigues dos Santos.

Felizmente a ERC terá a oportunidade de prestar os seus esclarecimentos na Assembleia da República para se perceber melhor este episódio, mas nunca é demais lembrar que não podemos dar como adquirido a liberdade de imprensa e a separação de poderes que são pilares fundamentais alcançados com o 25 de abril.

Aguardemos pelo nosso direito de sermos informados.