Política não é um sprint, é uma maratona. Se não o fosse, deixaria de ser política para ser outra coisa qualquer. Daí que não seja nunca precoce falar de futuro, próximo ou distante, quando nele vemos esperança ou falta dela. O sprint transformaria qualquer tema em momentâneo e efémero – e o futuro, que não chegou ainda, nunca poderá sê-lo.

Digo isto porque falta pouco mais de um ano para as eleições autárquicas e quero já falar delas. Nunca é demasiado cedo, apenas demasiado tarde. Se me tivesse lembrado, teria já falado delas ontem.

As eleições autárquicas são polarizantes por natureza. Nas lutas entre poder central e poder local, há quem dê prioridade a um, ao outro e até o seu contrário. Isto tende, naturalmente, a mudar consoante as circunstâncias pessoais de cada um, o seu pensamento político ou, em casos aplicáveis, a distância mental a que se encontram das metrópoles. A identificação com o Estado central e o seu papel de providência é maior tanto quanto o “centralismo” favorece o nosso quintal; e a tendência é que as localidades se agigantem tanto quanto mais isoladas – ou, pelo contrário, inibidas – se sentirem.

Seja por onde for, estas eleições são importantes. É nelas que a dinâmica mais se manifesta e em que as gentes se sentem mais envolvidas – eu sou português, decerto, mas cascalense também, não portuense (apenas portista) ou eborense. Importa-me o que se passa no meu concelho, na minha freguesia, tanto mais, lá está, porque tenho consciência das suas enormes capacidades de agir mesmo com as suas competências relativamente restritas.

É nestas eleições que encontramos a política no seu estado mais puro, por vezes entre vizinhos, onde a cor partidária não tem o peso vinculativo que tem, erradamente, em todos os outros ciclos eleitorais, onde o pragmatismo mais se manifesta.

E porquê?

Porque o quotidiano importa. A esperança também é alimentada com o dia a dia de gozo instantâneo, com o tapar dos buracos na estrada, com a limpeza eficaz das ruas. O Estado central não poderá possivelmente ter mão para a gestão única de mais de dez milhões de pessoas e adjacentes infraestruturas: a barragem é daqui a trinta anos, mas as festas são para a semana.

É na política autárquica que, em muito sítio por este Portugal fora, as pessoas depositam a sua confiança, num presidente de junta que é muito mais do que um “mero político”, em tantas aldeia como a dos meus avós, onde a presença de Portugal é mais rara.

Mas o outro lado da moeda, felizmente, não é impeditivo: também em sítios onde a presença de Portugal é maior, como em Cascais, há espaço para o crescimento e oportunidade passível ser aproveitado por quem assim quiser. Para que tal aconteça, nem a política autárquica poderá deixar de o ser nem a prioridade poderá ser a conjuntura nacional, mesmo que esta possa, naturalmente, ter os seus efeitos. O local poderá sempre ter um papel preponderante na vida das pessoas, independentemente da existência (ou não) de segurança da providência do aparato estatal.

Nunca é demasiado cedo para falar de política autárquica, apenas demasiado tarde. É agora, faltando um ano para as eleições, que devemos analisar o que foi feito, o que se está a fazer e quais as perspetivas de futuro. Felizmente, no meu caso, olhar para Cascais e para o trabalho da autarquia é presenciar em primeira mão o verdadeiro poder local e o que pode ser capacitado da terra para fora dela, ao exponenciar o valor da sua própria conjuntura.

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais