Os partidos de esquerda da Nova Frente Popular rejeitam participar nas novas reuniões anunciadas para hoje por Emmanuel Macron, após a sua recusa em nomear a candidata da coligação, Lucie Castets, como primeira-ministra.
“Não voltaremos ao Eliseu se não se tratar de discutir os termos de uma coabitação (…). Caso contrário, já dissemos tudo um ao outro”, disse Lucie Castets, em entrevista à rádio France Inter.
A representante da coligação que venceu as eleições antecipadas em França, que se disse “muito zangada, muito preocupada” com a democracia, que considera encontrar-se “num estado preocupante”, reiterou que é “fundamental que as pessoas se mobilizem hoje”.
Emmanuel Macron convocou eleições antecipadas “sem consulta, algo que ninguém compreendeu”, e mais de um mês depois “diz aos franceses que foi inútil, que votaram mal”, afirmou a candidata.
“Seremos capazes de trabalhar com os outros, de chegar a um compromisso, porque se não o fizermos, sabemos que a sanção democrática será a censura”, referiu Lucie Castets, em resposta aos partidos de oposição que ameaçam censurar um governo de esquerda.
Lucie Castets prometeu ainda fazer a sua parte para continuar a encarnar a “união da esquerda”, que inclui a França Insubmissa, os socialistas, os ecologistas e os comunistas, considerando que é “extremamente problemático descartar a França Insubmissa”.
A França Insubmissa, enquanto maior força política no seio da Nova Frente Popular, tem sido contestada por todos os partidos da oposição, que consideram que o seu programa pode destabilizar o país e veem uma figura muito divisiva em Jean-Luc Mélenchon, seu fundador, que pode assumir um lugar de liderança no governo.
“A decisão de Emmanuel Macron não corresponde de todo à lógica das instituições e à lógica democrática”, acrescentou Castets.
Também os socialistas e os ecologistas adiantaram hoje a sua recusa em participar nas consultas.
“Recuso-me a ser cúmplice de uma paródia de democracia”, afirmou o primeiro secretário do Partido Socialista francês, Olivier Faure, numa entrevista ao canal de televisão France 2.
“O que está realmente a acontecer (…) é que [Emmanuel Macron] não quer que o programa da Nova Frente Popular seja implementado, que revoguemos a reforma das pensões” do ano passado, acrescentou.
Olivier Faure classificou como “um problema democrático” o presidente francês recusar-se a nomear um primeiro-ministro do bloco político que obteve o maior número de deputados eleitos nas eleições legislativas de 7 de julho.
Já a secretária-geral do partido ecologista EELV, Marine Tondelier, acusou Macron de estar a fazer “uma deriva iliberal” por se recusar a dar as chaves do governo ao bloco político com mais assentos na Assembleia Nacional, numa entrevista para a rádio pública FranceInfo.
Marine Tondelier anunciou ainda que vão convocar “mobilizações” de protesto, embora tenha sublinhado que serão “pacíficas”.
Também a França Insubmissa apelou a uma “grande mobilização face ao golpe de Macron” e à “excecional gravidade da situação” para o dia 7 de setembro, segundo um comunicado publicado nas suas redes sociais.
A França Insubmissa declarou que se “junta ao apelo das organizações juvenis, da União dos Estudantes e da União do Ensino Secundário” e espera que “as forças políticas, sindicais e associativas empenhadas na defesa da democracia se juntem”.
O Eliseu anunciou no final da tarde de segunda-feira que, após o fim das consultas políticas com os líderes dos principais partidos parlamentares, Macron não nomearia Lucie Castets e retomaria hoje as reuniões com os partidos.
No entanto, fontes do Eliseu deixaram claro que nem a França Insubmissa nem a União Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella, e os seus aliados, considerados fora do campo republicano, seriam convidados para a nova ronda de consultas.
Um dos principais aliados de Macron, o líder do partido centrista MoDem, François Bayrou, garantiu que a situação atual do país “não é de um impasse total”, justificando a recusa de Macron em nomear um primeiro-ministro de esquerda com o facto de, segundo o campo presidencial, o programa da coligação Nova Frente Popular ser, na realidade, o programa da França Insubmissa.