O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou no início de Agosto que, em 2023, o turismo contribuiu direta e indiretamente com cerca de 33,8 mil milhões de euros para o Produto Interno Bruto (PIB) Português, passando desta forma a ser responsável por cerca de 13% da riqueza nacional e assegurando metade do crescimento real da nossa economia. Estes números reforçam o interesse estratégico do Algarve para Portugal, já que esta é a nossa principal região turística. Em 2023 (último ano com informação completa disponível), o Algarve acolheu mais de 20 milhões de dormidas e gerou um total de proveitos que excedeu os 1,5 mil milhões de euros, valores que equivalem a cerca de 30% do total nacional, padrão que se vem repetindo ano após ano. É, no entanto, preciso reconhecer que o Algarve não consegue contribuir de forma decisiva para a economia nacional já que, segundo dados do INE, em 2022 (último ano com informação disponível), assegurámos apenas 4,8% do PIB.

A produtividade é a palavra-chave que permite entender esta realidade. De facto, como sabemos, esta é bastante baixa nos sectores que alimentam a dinâmica turística, com a hotelaria, a restauração, os transportes e o comércio a não conseguir competir com as atividades industriais nesta temática. Por outro lado, são vários os segmentos ligados à área dos serviços que têm vindo a aumentar de forma impressionante a sua produtividade, fruto da introdução de níveis crescentes de conhecimento e ciência nos seus processos produtivos.

Infelizmente, no Algarve há muito para fazer nesta matéria. Segundo o INE, em 2022 (último ano com informação disponível), a região canalizou uns meros 0,4% do seu PIB para despesa em investigação e desenvolvimento (I&D), valor que compara com os 1,7% registados para Portugal. A mesma fonte indica que, nesse ano, foram as Instituições de Ensino Superior (IES) sedeadas no Algarve a assumir a maior fatia da despesa em I&D (48,6% do total), com as empresas da região a responderem por apenas 39,8% do esforço e o Estado a ficar-se por uns simbólicos 2,1%. Estes valores devem preocupar-nos bastante já que comparam muito mal com os nacionais. No mesmo ano, o sector empresarial realizou 62.2% da despesa em I&D; as IES 31,1% e o Estado 4,3%.

Sem surpresa, os valores anteriores expressam a quase total ausência de recursos humanos altamente qualificados na estrutura produtiva do Algarve. O INE mostra que, em 2022, a proporção de investigadores (medidos em equivalente a tempo integral) na população ativa da região ascendia a 0,41%; em Portugal, o valor equivalente é de 1,14%. Por outro lado, nesse ano, existiam 1.158 pessoas (novamente medidas em equivalente a tempo integral) a laborar em atividades de I&D no Algarve. Destas, 57% estavam enquadradas nas IES e apenas 32% (366) encontravam trabalho no sector privado. Os valores equivalentes para Portugal são bastante diferentes: das 74.103 pessoas ligadas às atividades de I&D, 51% acrescentavam valor nas empresas.

Vencer o desafio (do aumento) da produtividade é algo de absolutamente determinante para o nosso futuro coletivo. Lamentavelmente, o país mostra-se incapaz de reduzir o seu atraso para com os seus parceiros europeus nesta matéria, o que redunda numa redução cada vez mais clara da nossa qualidade de vida relativa. O repto é enorme se tivermos em conta que, em 2022, a nossa produtividade real do trabalho, medida em paridade de poder de compra, é de apenas 63,3% da média da zona euro. Uma das formas de ultrapassar este atraso estrutural do País passa pela aposta na investigação e desenvolvimento. Neste contexto, o Algarve tem ainda mais trabalho a fazer do que o resto do País. Seremos nós capazes de estar à altura deste desafio?