As bolsas afundaram nas últimas sessões devido aos receios dos investidores com uma recessão nos Estados Unidos, a par com a decisão do banco central japonês, mas analistas indicam que a economia norte-americana ainda pode recuperar, evitando repercussões na Europa.
Na sexta-feira, a publicação dos dados do emprego nos Estados Unidos em julho mostraram uma subida da taxa de desemprego para 4,3%, acima do esperado, o que fez soar os alarmes.
Como explica Gregor Hirt, diretor de Investimento Global em Multiativos da AllianzGI, “os mercados globais estavam à procura de dados mais fracos dos Estados Unidos para justificar os cortes nos juros por parte da Reserva Federal”. Porém, “quando confrontados com a realidade de números mais fracos, na forma do relatório de emprego nos Estados Unidos de sexta-feira, ficaram assustados”, sinaliza.
Esta situação “ocorreu num contexto de fraqueza geral do setor tecnológico que o aperto nas taxas de juro pelo Banco do Japão não tem feito nada para aliviar”, acrescenta.
Na segunda-feira, o índice japonês Nikkei caiu 12,4%, no que foi o seu pior dia desde 1987, enquanto a bolsa de Nova Iorque fechou em queda acentuada, com o Dow Jones e o S&P 500 em mínimos de dois anos.
Na Ásia, ao pessimismo geral juntou-se a preocupação com o impacto que a recuperação do iene pode ter nas exportações. A moeda japonesa tem vindo a subir face ao euro e ao dólar, após uma mudança na política monetária decidida pelo Banco do Japão, que anunciou no passado dia 31 de julho uma subida das taxas de juro.
Para o analista da AllianzGI “o fator mais crítico – e potencialmente negligenciado – que afeta a estabilidade financeira global é a decisão do Banco do Japão, na semana passada, de aumentar a sua taxa de juro diretora”.
“Muitos investidores estavam a utilizar o JPY para financiamento/carry devido à volatilidade previsível da moeda”, pelo que “a intervenção inesperada do banco “quebrou” efetivamente estas negociações e o resultado foram grandes realocações por parte dos investidores que as fecharam. Para além do mercado acionista japonês, esta mudança também terá provavelmente impacto nos mercados emergentes, como o peso mexicano, e poderá também explicar parcialmente a fraqueza do Nasdaq”, indica.
Mesmo assim, na sessão desta terça-feira já se veem alguns sinais de melhoria, nomeadamente no Nikkei, que fechou hoje a ganhar 10,23%. No que diz respeito à economia norte-americana, Gregor Hirt não considera que “os dados tornem uma recessão nos Estados Unidos inevitável”.
“O relatório reduz ainda mais a probabilidade de uma aterragem sem aterragem – onde a economia continua a expandir-se apesar dos melhores esforços do banco central para atenuar a inflação – e aumenta as probabilidades de uma aterragem suave ou de uma recessão”, nota.
O cenário base continua a ser uma aterragem suave, mas alguns investidores “não estavam posicionados para a probabilidade de recessão (como evidenciado pela recente volatilidade ultrabaixa) e a recente atividade do mercado sinaliza uma reavaliação saudável das perspetivas”, sendo por isso que “o índice VIX, conhecido como “medidor do medo” de Wall Street, atingiu o seu nível mais alto desde 2022”.
O analista da Xtb, Henrique Tomé, também aponta à Lusa que “os receios são fundamentados pelas mudanças na economia que estão a ser nítidas através dos indicadores económicos, porém ainda é muito cedo para falar num cenário de recessão”. Ainda na segunda-feira “saíram dados que medem atividade económica que mostraram que a mesma até subiu em relação ao mês anterior e bastante acima do que era esperado pelos analistas”.
Os receios face aos Estados Unidos também estão a penalizar as bolsas europeias, sendo que “há um velho ditado que diz que quando a “América espirra, o mundo constipa-se”, destaca o analista. “Perante um cenário de recessão nos Estados Unidos, a Europa seria sem dúvida também afetada e a sua recuperação poderia estar em causa”.
Ainda assim, a DBRS nota que “apesar das descidas acentuadas nos mercados bolsistas a nível mundial”, continua a considerar “os bancos nos Estados Unidos e nos principais mercados como sendo resilientes, tendo reservas de capital e liquidez suficientes, mesmo que o mercado bolsista continue a diminuir e os Estados Unidos entrem numa recessão”.