Falta menos de uma semana para começarem as cobranças e as reflexões sobre o estado do desporto português. Gente que nunca viu um combate de judo, uma prova de natação ou ciclismo – do alto do seu profundo conhecimento sobre as modalidades olímpicas – ditará a sua sentença sobre atletas, federações, apoios estatais, tudo.

Se os Jogos Olímpicos servirem para refletirmos sobre o desporto português, ótimo, mas que não partamos do medalheiro para iniciar a conversa. Na grande maioria das provas, as medalhas olímpicas disputam-se por segundos, instantes, uma unha negra que separa a vitória da derrota, a alegria da frustração, o endeusamento da crítica feroz. Aprendi com o Bruno Pais, triatleta olímpico, que uma medalha nos Jogos significa que naquele dia correu tudo bem. De quantos dias da nossa vida nos lembramos em que correu tudo bem? Poucos ou nenhum.

Os atletas vivem de resultados e fugir disso é prestar-lhes um mau serviço. É, aliás, o resultado que valida o atleta e a política desportiva de um determinado país, mas nada disso começa e acaba numa medalha ou diploma olímpicos. Os quatro anos de intervalo entre cada festa do desporto estão repletos de competições, resultados, feitos ou a total ausência deles.

Basta ver, aliás, o que aconteceu no passado fim de semana em modalidades onde será muito difícil – impossível, até, no caso do andebol – trazermos uma recordação de Paris em metal nobre: João Almeida foi quarto na Volta a França em bicicleta; Nuno Borges venceu o seu primeiro torneio ATP, derrotando a lenda Nadal no jogo decisivo; enquanto a seleção de Sub 20 de andebol sagrou-se vice-campeã europeia depois de um torneio imaculado.

Se quisermos refletir sobre o estado do desporto português, vamos a isso. Há um mundo de reformas urgentes para debater que passam pelo modelo de funcionamento das federações, financiamento público e privado, desporto escolar, infraestruturas, enfim, um planeta de coisas que merecem ser discutidas e concretizadas. A questão é que a urgência deste trabalho não vem das medalhas que não se ganhem em Paris, mas dos obstáculos claros com que nos deparamos todos – dirigentes, atletas, treinadores, pais e patrocinadores – no dia a dia, sempre que queremos sonhar mais um pouco.

Está quase a começar a festa. Façamos dos Jogos Olímpicos aquilo que eles são: uma celebração que vai muito para lá da medalha e da glória, um encontro de exemplos num mundo que está a perder referências. Não percamos a exigência, mas convém enquadrá-la na realidade de um país com pouco mais de dez milhões de habitantes, pouca cultura desportiva e pobre quando comparado com as potências desportivas mundiais.

É daqui que partimos para Paris e é também deste ponto que devemos iniciar as reformas que o desporto português necessita. Boa sorte, #EquipaPortugal!

Consultor de comunicação