O Partido Republicano organiza, na próxima semana, a sua Convenção Nacional em Milwaukee, Wisconsin, e certamente não se importaria de adiá-la mais umas semanas para não desviar o foco de Joe Biden. Desde o debate de 27 de junho, Donald Trump e seus aliados têm mantido cautela e discrição, evidenciando uma disciplina férrea, pouco habitual na entourage trumpista. Não por acaso, adiaram o anúncio do nome do vice-presidente para o primeiro dia da convenção e há uma espécie de retirada estratégica para deixar o campo livre para as guerras internas do adversário.

Todos os dias têm surgido ativistas, políticos ou financiadores do Partido Democrata a manifestar dúvidas sobre Biden, com apelos mais ou menos velados para a sua desistência. O presidente norte-americano permanece inflexível, garantindo que não vai abandonar a corrida, e irredutível na crença de que irá defrontar e derrotar Donald Trump. Talvez o GOP, na próxima semana, o ajude, desviando os holofotes das suas fragilidades.

O que podemos esperar da Convenção Nacional Republicana? As convenções são, sobretudo, grandes espetáculos televisivos que servem para entusiasmar e mobilizar os eleitores, particularmente os apoiantes. São também uma oportunidade para falar diretamente ao povo americano e oferecer uma visão para o país. Haverá certamente muitos momentos memoráveis e, caso nada aconteça até segunda-feira, Biden será o alvo preferencial de todos os discursos. Haverá, no entanto, muitos motivos de interesse, polémicas e temas para os media e redes sociais.

A começar logo no primeiro dia, quando será conhecido o candidato a vice-presidente, decisão que poderá influenciar o futuro do Partido Republicano e dos Estados Unidos. Neste momento, há três favoritos: o senador do Ohio, J. D. Vance; o senador da Flórida, Marco Rubio; e o governador do Dakota do Norte, Doug Burgum. São perspectivas diferentes que irão demonstrar o tipo de presidência que poderemos esperar com Trump.

J. D. Vance, famoso pelo seu livro Hillbilly Elegy e seu antigo crítico, foi eleito em 2022 numa plataforma trumpista, representando de forma quase perfeita a visão MAGA, mais isolacionista e populista. Marco Rubio, antiga estrela do establishment republicano, aproximou-se de Trump depois de ter sido por ele derrotado nas primárias de 2016, sendo alguém que abandonou a ala tradicional reaganista para ser aceite neste “novo” partido. Devido ao seu passado pró-NATO e adepto da corrente neoconservadora, será menos consensual nos círculos trumpistas. Por fim, Doug Burgum, que teve uma presença discreta nas primárias deste ano e que poucos acreditarão ser o futuro do partido. Talvez seja uma figura que Trump goste precisamente porque não lhe fará sombra, à semelhança de Mike Pence, em 2016. Claro que pode sempre haver uma surpresa, como Tim Scott, Elise Stefanik ou Byron Donalds. Com Trump, nunca se sabe o que esperar.

Esta escolha irá certamente absorver a atenção dos primeiros dias e será de esperar muitos apelos à unidade e ataques cerrados aos Democratas. Antigos opositores internos de Trump deverão desfilar por Milwaukee. O governador da Flórida, Ron DeSantis, já está confirmado, faltando saber se Nikki Haley, a última adversária destas primárias, terá também espaço na convenção, ela que já lhe declarou apoio. No entanto, é de esperar muitos discursos inflamados de apoiantes de Trump, incluindo dos mais radicais, como a candidata ao Senado do Arizona, Kari Lake, ou a congressista Marjorie Taylor Greene. Há ainda a expectativa de perceber que elementos da família de Trump vão subir ao palco para intervir, especialmente Melania, que tem estado muito ausente da campanha.

Finalmente, no último dia, o discurso de aceitação da nomeação por parte de Donald Trump, com muitas críticas aos democratas e ao Crooked Joe. Mas nem nos melhores cenários os republicanos pensariam chegar a esta altura da campanha em posição tão favorável. Trump pode mesmo dar-se ao luxo de quase ausentar-se da campanha e ver temas como a sua condenação judicial, os muitos processos criminais e as gafes, mentiras ou tiradas escandalosas a quase desaparecerem do panorama mediático. Se foi Joe Biden o responsável pela sua saída da Casa Branca, será ele agora o principal promotor do seu regresso? Assim parece.

Especialista em política norte-americana