ESG é o acrónimo inglês para Environmental, Social and Corporate Governance, o qual serve para representar um conjunto de políticas e práticas ambientais, sociais e de governança que visam guiar empresas, investimentos e escolhas de consumo para a sustentabilidade. De forma genérica, o aspecto ambiental preocupa-se com temas como o consumo de energia, a gestão de resíduos, a poluição, a conservação de recursos naturais e o impacto nas mudanças climáticas. Já a componente social está ligada às relações com trabalhadores, fornecedores e clientes e tem como principais preocupações as condições de trabalho, os direitos humanos, a diversidade e a inclusão. Finalmente, a governança tem como temas centrais a transparência, a ética e as relações com os stakeholders. A filosofia ESG tem vindo a ser paulatinamente introduzida na União Europeia desde o início deste século e terá efeitos práticos sobre a generalidade das empresas muito em breve.
Esta realidade é muito importante para o Algarve. De facto, como sabemos, a nossa economia depende (quase exclusivamente) da actividade turística, a qual está criticamente ligada às temáticas ESG. Vejamos, por exemplo, a questão social. Cerca de 40% do nosso emprego resulta das ofertas de quatro sectores: a hotelaria, a restauração, o comércio e os transportes. Existe, no entanto, uma percepção generalizada de que trabalhar nestas áreas não é interessante. São várias as explicações para este fenómeno, passando pelos níveis de remuneração, os horários de trabalho ou a marcada precariedade das relações laborais. No final, verifica-se um notado afastamento dos trabalhadores destas áreas económicas, fenómeno que gera uma crónica escassez de recursos humanos na região durante a época alta do turismo. A solução dos operadores tem sido o recurso crescente a trabalhadores estrangeiros, os quais são hoje absolutamente indispensáveis para que o Algarve possa funcionar nos meses do verão. Infelizmente, tal prática pode, no mais longo-prazo, gerar tensões sociais importantes já que as políticas de integração destas novas comunidades são relativamente ineficazes. Em paralelo, é preciso pensar nos efeitos do turismo sobre a vida dos residentes. Um relatório recente do Observatório para o Turismo Sustentável do Algarve revela que, em 2023, estes são ainda bastante tolerantes para com o fenómeno turístico. No entanto, os residentes já associam o turismo ao gravíssimo (e crónico) problema do acesso à habitação e ao aumento do seu custo de vida. Ao mesmo tempo, apontam o dedo ao turismo quando o tema é a sustentabilidade ambiental, reconhecendo que este conduz ao aumento da poluição e à degradação das áreas naturais de uso livre.
A questão ambiental mencionada pelos residentes é outra peça importante do puzzle ESG do Algarve, onde persistem várias questões complexas. Partilho dois exemplos simples. O primeiro prende-se com o Índice Sintético de Desenvolvimento Regional, o qual é produzido pelo Instituto Nacional de Estatística, e que revela que, em 2023, o Algarve ocupa a penúltima posição do pódio em matéria ambiental, ficando assim bastante abaixo da média nacional, algo que é, lamentavelmente usual. Esta performance explica-se pela dificuldade da região em comparar bem com as outras em matérias tão importantes como o volume de resíduos urbanos recolhidos por habitante, a proporção de resíduos urbanos depositados em aterro, a taxa de espaços florestais ardidos ou a concentração territorial de novas construções. O segundo exemplo que importa trazer à colação neste contexto é a terrível escassez hídrica que se faz sentir a sul, a qual pode simplesmente inviabilizar o nosso modelo económico e social. No longo-prazo, teremos ainda de lidar com os impactos das alterações climáticas os quais, para além de pressionarem ainda mais o Algarve em termos hídricos, levantam questões sobre a erosão da nossa linha de costa e a qualidade das nossas praias.
Os parágrafos anteriores sugerem que há espaço para a filosofia ESG ajudar a resolver alguns dos desafios que o Algarve enfrenta. Será, pois, importante trabalhar os operadores para que estes adoptem de forma positiva (apesar dos custos associados) esta filosofia de gestão já que a maioria acabará por sentir os seus efeitos por duas vias distintas. A primeira é a simples pertença a uma cadeia de valor ESG. Em particular, todas as empresas que quiserem continuar a manter relações comerciais com outras que já são obrigadas a cumprir com a legislação ESG terão, elas próprias, de se adaptar a esta nova realidade. A segunda prende-se com o financiamento bancário que, no futuro, vai depender do cumprimento das práticas ESG. De facto, prevê-se que as instituições financeiras venham a ser obrigadas a incluir na sua análise de risco os critérios ESG de forma explícita.
No caso algarvio há ainda uma dimensão extra que é muito relevante. Sem surpresa, o Observatório para o Turismo Sustentável do Algarve revela no seu relatório de 2023 que a maior motivação para visitar a nossa região é o lazer e as férias. As deslocações exigem sempre o uso de transportes e a permanência no território requer o consumo de energia e água. Logo, seria interessante que o Algarve trilhasse um caminho que o tornasse mais verde, algo que terá um efeito positivo sobre a nossa procura turística. Se formos capazes de produzir a nossa energia a partir de fontes renováveis, otimizar o ciclo da água de forma a reduzir desperdícios e aumentar a reutilização, se arranjarmos formas inteligentes de compensar a pegada carbónica de quem nos visita (e já agora, melhorarmos a nossa rede de transportes e a tipologia de veículos que a alimenta) seremos capazes de diferenciar, ainda mais, o nosso Algarve como sendo um destino turístico ímpar no mundo.