Encontro-me entre os mais de 212 mil portugueses que votaram no passado fim de semana. O voto antecipado é hoje um dado adquirido, mas nem sempre foi assim, com isso potenciando a abstenção. A novidade nestas eleições é que, além do voto antecipado, os eleitores poderão votar em qualquer mesa à sua escolha em Portugal e no estrangeiro. Um passo quase revolucionário, diria.

Portanto, a partir deste ano, não há desculpa possível para não votar.

Concordo em absoluto que o voto é um direito, mas também um dever, ainda que ninguém deva ser obrigado a votar se não pretende.

Isto dito, tenho dificuldade em compreender que alguém prescinda de um direito tão importante. Os cidadãos que integram uma determinada comunidade política devem participar nos processos de decisão dessa mesma comunidade através dos instrumentos que estão ao seu alcance.

Do mesmo modo, se alguém é sócio de uma associação de direito privado sem fins lucrativos, de um sindicato, de um clube de futebol, ou de qualquer outra instituição, deve participar nas suas eleições, mas também nas restantes atividades organizadas ou decorrentes dessas instituições.

Se não se vota e se não se participa, tal significa que se prescinde de moldar os processos de decisão e que não se contribui para os resultados alcançados, sejam eles quais forem. Ou seja, na minha ausência por inação, delego em terceiros o poder de decidir o meu futuro. Soa a irresponsável, não é verdade?

Em suma, os ausentes, quando discordam dos resultados, de que se queixam, afinal, a não ser de si próprios?

Alguém que não participa na vida do seu sindicato, quando discorda de decisões ou de resultados, queixa-se de quem, afinal? Dos outros? A sério?

Os sócios que não votaram nas recentes eleições no F.C. do Porto, caso tenha sido eleito um candidato que não é do seu agrado, queixam-se de quem, afinal? Dos outros? A sério?

Os portugueses que não votaram nas últimas eleições legislativas e que não lhes agrada a atual distribuição de lugares no Parlamento, queixam-se de quem, afinal? Dos outros? A sério?

Votar e participar são direitos de que não abdico. Além disso, entendo que é também um dever. Além disso, não prescindo da legitimidade que a participação me confere para criticar o que assim entenda e para fazer parte das soluções.

O meu futuro e o dos meus filhos está nas minhas mãos. Por isso já votei. Outros, passivos no sofá, queixam-se do presente e do futuro para o qual civicamente nada contribuem. São um duplo peso morto. Prejudicam-se a si e a todos os demais.