A defesa dos direitos das mulheres, o reconhecimento do Estado da Palestina e as migrações dominaram a campanha do BE às eleições europeias, que criticou “eurocinismos” e procurou colar a direita à extrema-direita.
Numas eleições em que o BE luta por manter a dupla representação que tem no Parlamento Europeu, a cabeça-de-lista, Catarina Martins, começou a campanha na estrada a baixar expectativas sobre o pós-9 de junho, dizendo apenas que pretendia “um resultado forte”.
A extrema-direita foi desde logo escolhida como principal adversário, mas não só: também os “aliados” à direita, nomeadamente PSD e CDS-PP, criticados várias vezes pelo apoio à atual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, do Partido Popular Europeu (PPE), que pode vir a precisar dos partidos conotados com a direita radical para ser reeleita no cargo.
A colagem à extrema-direita foi usada para acusar sociais-democratas e centristas de estarem a transformar-se numa espécie de “exército de guerra” contra as mulheres, nomeadamente no que toca à interrupção voluntária da gravidez.
O conflito na Faixa de Gaza foi outro dos temas que entraram, recorrentemente, no discurso bloquista, com acusações de “eurocinismo máximo” e “cinismo insuportável” lançadas por Catarina Martins ao governo português e à União Europeia por não reconhecerem o Estado da Palestina de forma imediata, à semelhança de outros países.
O BE insistiu na necessidade de aplicar sanções a Israel, lembrando que o mesmo foi feito à Federação Russa após a invasão da Ucrânia.
A caravana contou quase sempre com a presença da coordenadora do partido, Mariana Mortágua, que acompanhou a comitiva mesmo quando não participava publicamente nas ações. Mortágua tentou não ofuscar a cabeça-de-lista e antecessora, focando-se em temas nacionais e deixando para Catarina Martins os debates europeus.
As novas medidas do governo de Luís Montenegro para a imigração foram o pretexto para o BE insistir nas críticas que fez desde a pré-campanha ao Pacto para as Migrações e Asilo da União Europeia, acusando PSD e CDS-PP, mas também PS e liberais, de permitirem “a detenção e deportação de crianças”.
Numa campanha que tentou fugir a “picardias vazias”, com Catarina Martins a recusar, por vezes, responder a polémicas do dia, o BE acabou por trocar algumas acusações com o cabeça-de-lista da IL, João Cotrim Figueiredo, que atirou aos bloquistas o rótulo de “sonsice” pela posição sobre a Ucrânia e chegou a acusar o antigo coordenador Francisco Louçã de ser “especialista em política suja”.
Bastante crítica das novas regras de governação económica da União Europeia, por considerar que limitam o governo português no investimento em áreas-chave como habitação, saúde ou educação, Catarina Martins aproveitou este tema para fazer equivaler PSD, CDS-PP, PS e IL, pedindo um voto no BE “que faz a diferença”.
“Não vale a pena estar a votar nos partidos que, independentemente das suas oposições a nível nacional, quando chegam ao Parlamento Europeu acabam por votar nas mesmas políticas. Um voto no BE é esse voto feminista e firme”, garantiu, em Matosinhos.
Sem a mobilização das eleições legislativas, o BE apostou numa campanha direcionada para ações temáticas, como a visita a uma escola multinacional para falar de migrações, a um alojamento estudantil para abordar a crise habitacional ou até uma visita ao Centro de Valorização do Burro de Miranda do Douro, em Bragança – exemplos que se comprometeu a apoiar a nível europeu.
Apesar de, na pré-campanha, Catarina Martins ter admitido que o BE queria manter a dupla representação a nível europeu, durante a campanha oficial, a bloquista rejeitou sempre especificar metas.
Na segunda semana de estrada, coube ao antigo coordenador bloquista Francisco Louçã e à atual líder, Mariana Mortágua, concretizar o objetivo eleitoral do BE: manter os dois eurodeputados no Parlamento Europeu na noite de domingo.