O Banco Central Europeu (BCE) deve começar, na quinta-feira, a baixar as suas taxas de juro, atualmente no nível mais alto de sempre, permitindo um alívio nos empréstimos de famílias e empresas.
Existem “sólidos argumentos a favor de uma redução das taxas em junho”, disse recentemente à AFP o governador do Banco da Finlândia, que integra o Conselho de Governadores do BCE. Vários dos seus colegas exprimiram-se no mesmo sentido.
Segundo os analistas, esta primeira descida das taxas de juro deve ser de 25 pontos-base.
“Salvo surpresas de última hora, o BCE vai baixar as suas taxas de juro em 25 pontos base, numa decisão largamente descontada pelos analistas e pelos mercados financeiros e que, a julgar pelas declarações, conta com o consenso de todo o Conselho de Governadores”, refere uma nota do BPI enviada à Lusa.
“Este corte é apoiado por uma moderação forte e sustentada da inflação nos últimos trimestres, pela confiança de que esta continuará a descer no futuro e pela constatação de que o endurecimento monetário está a ser fortemente transmitido, tem arrefecido a economia e atenuado os efeitos de segunda ordem”, acrescenta o texto.
A taxa de inflação na zona euro atingiu um pico ao ultrapassar os 10% em outubro de 2022. Desde então, tem vindo a recuar, aproximando-se gradualmente da meta de 2% fixada pelo BCE.
No entanto, a taxa de inflação subiu em maio para 2,6%, depois de ter ficado em 2,4% em março e abril, de acordo com dados publicados na sexta-feira.
Esta subida “está ligada a fatores temporários”, considerou Riccardo Marcelli Fabiani, analista da Oxford Economics, convicto de que isso “não impedirá a descida das taxas em junho, claramente anunciada”.
Contudo, o BCE “será prudente e é pouco provável que desça (de novo) as taxas de juro na reunião de julho”, acrescentou.
Segundo Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, “embora haja um consenso sobre este primeiro corte, já o ritmo de cortes futuros está dependente de um animado debate dentro do Conselho”.
“A questão mais importante em cima da mesa” na quinta-feira será “saber em que medida o BCE está disposto a dar orientações” sobre a evolução das taxas depois de junho”, afirmou Dirk Schumacher, economista da Natixis.
Depois de junho, um segundo corte consecutivo nas taxas em julho é tudo menos certo porque “não estamos em piloto automático”, advertiu Joachim Nagel, presidente do banco central alemão.
François Villeroy de Galhau, governador do Banco de França, defendeu que o BCE deve manter a sua “liberdade de timing e de ritmo”.
Para alimentar a discussão, o BCE vai dispor de novas previsões económicas.
Nas previsões que foram divulgadas em março, a instituição esperava que a inflação atingisse o seu objetivo de 2% em 2025.
Um indicador que foi comentado nos últimos tempos, o crescimento dos salários negociados, acelerou para 4,7% em termos homólogos no primeiro trimestre, após ter ficado em 4,5% no primeiro trimestre de 2023, o que se deve principalmente ao pagamento de bónus pontuais.
Os “falcões” do BCE podem aproveitar esta subida contínua dos salários para defender prudência quanto à descida das taxas, segundo Schumacher.
Neste contexto, o BCE pode optar por reduzir as taxas de juro apenas uma vez por trimestre, prevê Holger Schmieding, do banco Berenberg.
A principal taxa de juro de refinanciamento está atualmente em 4,5%, a taxa de depósitos está em 4% e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez em 4,75%.
Outros bancos centrais, como a Reserva Federal norte-americana ou o Banco de Inglaterra, ainda não iniciaram o ciclo de cortes nas taxas de juro e só devem fazê-lo mais perto do final do ano, face à resiliência da inflação.