A campanha para as eleições europeias ficou manchada pelo baleamento de um primeiro-ministro e vários ataques a políticos alemães, num dos quais morreu um polícia, violência recorrente que, segundo um novo relatório, afeta sobretudo Grécia, França e Alemanha.
De acordo com o relatório sobre a nova violência eleitoral na Europa, do Armed Conflict Location and Event Data Project (ACLED), desde 2020 que os atos violentos por grupos radicais na União Europeia permaneceram “constantes”, tendo sido contabilizados no ano passado 100 episódios.
Nas últimas semanas, vários episódios indiciaram um aumento da violência com motivos político-ideológicos, sobretudo a tentativa de homicídio do primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, em 15 de maio.
Em maio houve agressões durante uma manifestação antifascista em Estocolmo, na Suécia, organizada pelas forças políticas de esquerda e ecologistas, e, em abril, grupos presumivelmente de extrema-direita agrediram candidatos socialistas e ecologistas e outros elementos das campanhas na Alemanha.
“A tentativa de assassínio de Fico é em resposta a resultados eleitorais [nacionais], mas os incidentes na Alemanha e na Suécia estão associados às eleições para o Parlamento Europeu, que se realizarão entre 6 e 9 de junho”, sustenta o ACLED no novo relatório.
A organização sem fins lucrativos considerou que, apesar de estes incidentes indiciarem um aumento da violência com motivações político-ideológicas e de “um ligeiro crescimento em 2021”, “a violência perpetrada por grupos radicais no conjunto dos países da União Europeia permaneceu constante desde 2020”.
“O ACLED identificou grupos de extrema-direita em 22 dos 27 da União Europeia e grupos de extrema-esquerda e anarquistas em dez” dos países do bloco político-económico.
“Há 100 acontecimentos violentos contabilizados em 2023 por elementos de grupos de extrema-direita e extrema-esquerda na União Europeia em 2023, mas o número não é superior a outros anos”, acrescentou o projeto de análise.
Grécia, França e Alemanha são os países com o maior número de episódios de violência por parte de grupos radicais (57%, 15% e 14%, respetivamente).
“Em 12 países da União Europeia, a extrema-direita estava envolvida em 85% dos episódios, cerca de 55 dos 65 incidentes”, concluiu o observatório.
Na Grécia os episódios de violência (80%) estão associados a grupos de extrema-esquerda e anarquistas em confronto com a extrema-direita ou a polícia.
Em França, a extrema-direita adotou uma postura “de vigilância” e, recentemente, estes grupos “agrediram pessoas de origem imigrante” sob a desculpa de “ajudar a polícia” a resolver tensões intercomunais.
No início de maio, o candidato às eleições europeias pelo Partido Social Democrata alemão (SPD) Matthias Ecke foi atacado e ficou ferido com gravidade, enquanto pendurava cartazes da campanha, na cidade de Dresden.
As autoridades revelaram que quatro desconhecidos espancaram o político de 41 anos, que estaria sozinho no momento do ataque e foi hospitalizado.
No mais recente episódio de violência durante a campanha, um polícia, de 29 anos, morreu após ter sido esfaqueado na sexta-feira, durante um comício anti-islâmico na cidade alemã de Mannheim, em que outras quatro pessoas ficaram feridas.
As autoridades alemãs admitiram a hipótese de o autor deste ataque, um homem de nacionalidade afegã, ter agido com motivações religiosas, uma vez que ele ocorreu durante um comício contra muçulmanos.
Cerca de 370 milhões de eleitores são chamados a escolher os 720 deputados ao Parlamento Europeu nas eleições que decorrem nos 27 Estados-membros da União Europeia entre 6 e 9 de junho.
Em Portugal, que elege 21 eurodeputados, o escrutínio está marcado para 9 de junho.