Ainda me lembro da primeira vez que o meu pai nos levou, crianças ainda pela mão, à Feira do Livro. Não sabia o que era mais extraordinário: se o tamanho das árvores se o meu pai falando sobre Luís de Camões. Fazia-me confusão ver livros ao ar livre e não numa biblioteca. Aquelas alamedas do Parque Eduardo VII, cheias de livros e tão longas, que nunca mais acabavam, tinham uma atmosfera diferente da que é hoje. Também foi há muito tempo, e as coisas mudam, adaptam-se. Naquela altura, eram só os livros que dominavam o tempo. Agora é todo um outro universo paralelo, abrindo-se como uma grande festa da cidade dentro do período das festas populares de Lisboa: um duplo convívio em que o popular e o suposto erudito se conjugam.
Este ano a Feira do Livro, que comemora o seu 94º ano, encontra-se aberta até 16 de Junho, com 350 pavilhões, 960 editoras, duas novas praças, horário prolongado das 12h00 às 22h00, sendo Sextas, Sábados e vésperas de feriado um horário abrangente das 10h00 às 23h00. Muito tempo – ou tempo suficiente – para assistir também a espetáculos de música e cinema ao ar livre, com momentos especiais dedicados aos mais pequenos. Melhores acessos para pessoas com mobilidade reduzida, mais espaços gastronómicos e eventos com linguagem gestual e esquema de cores para daltónicos, numa aproximação mais inclusiva da sociedade. Talvez esteja mais próximo do conceito de Feira do que do conceito de livro, mas, por enquanto, este é ainda o protagonista, com a disponibilização de mais de 850 mil obras para todos os gostos. É uma Lisboa em Festa, e que assim permaneça outros tantos anos.