Dirigentes da direita radical de diversos países reuniram-se este fim-de-semana em Madrid com apelos a uma mobilização nas eleições europeias de junho que permita “reorientar a União Europeia” em políticas como as da imigração.

Santiago Abascal (Vox), André Ventura (Chega),  Marine Le Pen (União Nacional), Giorgia Meloni (Irmãos de Itália) e Viktor Orbán (Fidesz) foram alguns dos políticos europeus que repetiram os mesmos apelos em Madrid, em discursos em que deram destaque à imigração e ao controlo das fronteiras, que consideram que deve ser reforçado.

O Pacto de Migrações e Asilo recentemente aprovado nas instituições europeias foi um dos focos das críticas, com Marine Le Pen a considerar que foi “imposto por tecnocratas” de Bruxelas e a associar a imigração à criminalidade e à insegurança.

“A imigração ilegal massiva traz criminalidade massiva, insegurança, negócio para ONG “, disse também Santiago Abascal, anfitrião do encontro de Madrid, que foi organizado pelo Vox e pelo grupo dos Reformistas e Conservadores (ECR, na sigla em inglês) no Parlamento Europeu.

Georgia Meloni, que é a primeira-ministra italiana e falou na convenção por videoconferência, considerou que os recursos e as políticas da União Europeia devem ser canalizados para “a defesa das suas próprias fronteiras exteriores em vez de obrigar os seus cidadãos a acolher massas de imigrantes contra a sua vontade”, insistindo nos acordos com países terceiros nesta matéria.

Marine Le Pen apelou ao voto nestes partidos de direita, considerando que “é hora de reorientar a Europa”, e Meloni considerou as eleições de junho decisivas para “mudar a maioria atual” no Parlamento Europeu, lamentando a aliança frequente do centro-direita com a esquerda para aprovar as políticas de imigração, mas também outras relacionadas com as alterações climáticas, o ambiente ou a agricultura.

“Há um ‘direitita’ cobarde e fraudulenta”, disse por diversas vezes Santiago Abascal no discurso de encerramento da convenção, verbalizando assim as diversas críticas que no encontro foram feitas a formações como o Partido Popular espanhol e europeu, que, segundo o líder do Vox, fazem acordos com a esquerda e votam ao lado dos socialistas em 90% dos casos no Parlamento Europeu.

A par da imigração, outros alvos dos discursos de hoje em Madrid foram “a ideologia de género”, que estes dirigentes políticos consideram estar a ser imposta por toda a Europa, e a defesa dos “valores tradicionais e das raízes cristãs” do continente europeu, que dizem ameaçados.

Os partidos que estiveram representados em Madrid não estão todos filiados no mesmo grupo no Parlamento Europeu, dividindo-se entre o ERC – Vox, Irmãos de Itália e, previsivelmente, após as eleições, Fidesz – e o Identidade e Democracia (ID) – Chega e União Nacional.

Todas estas forças são consideradas de direita radical, extrema-direita ou nacionalistas conservadoras, com discursos frequentemente qualificados por adversários e académicos como xenófobos e antieuropeístas, focados na imigração e no controlo de fronteiras, entre outros temas.

No palco da convenção do Vox sucederam-se apelos à união entre os dois grupos no Parlamento Europeu, precisamente, com o objetivo de “mudar a maioria atual” referida por Meloni, formada pelos socialistas, populares e liberais.

André Ventura disse a jornalistas portugueses, em Madrid, que este ano todas estas forças políticas “estão a lutar em toda a Europa no mesmo sentido” e que ECR e ID têm “pontes cada vez mais próximas”, com o objetivo de construírem “uma grande maioria” no próximo Parlamento Europeu “contra a agenda verde e em defesa da agricultura” e em “defesa de uma Justiça mais forte” e de “fronteiras contra a imigração ilegal”.

Perante a convenção do Vox, que reuniu 10.800 pessoas, segundo o partido, Ventura defendeu também ele uma União Europeia com “fronteiras fortes” e sem “entrada massiva de imigrantes islâmicos e muçulmanos”.

A convenção do Vox teve como convidado especial um político não europeu: Javier Milei, presidente da Argentina, que fez o discurso mais aplaudido pela assistência e no qual atacou “o socialismo maldito e cancerígeno”.

Milei disse ser necessário “retirar o Estado parasita da vida das pessoas e deixá-las ser livres”, sem que lhes digam o que comer ou onde estudar, e pediu para não haver qualquer abertura à “pantomima dos progressistas” e aos “canhotos”, numa referência à esquerda.

Enquanto decorria a convenção do Vox, cerca de mil pessoas manifestaram-se “contra o fascimo” no centro de Madrid, a quilómetros de distância a reunião da direita radical europeia.