O vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico (OMI), João Henriques, defendeu, em declarações à Lusa, que o alargamento do grupo dos BRICS a países muçulmanos pode implicar uma “revolução” na economia e política global.
João Henriques lembrou que os atuais 10 membros do bloco congregam cerca de 3.000 milhões de cidadãos, num universo de 8.000 milhões, para além de terem grande peso na economia global.
“Portanto, vai haver uma revolução”, admitiu João Henriques, salientando que alguns analistas consideram que não vai ser fácil alterar a economia e a geopolítica internacional.
“Objetivamente haverá uma mudança, até porque já começa a preocupar a anterior economia mundial, desde sempre dominada pelos Estados Unidos e pelos países ocidentais. A imposição do dólar, que começou a consolidar-se logo a seguir à Segunda Guerra Mundial e vai provocar uma mexida na geopolítica e na geoeconomia mundial, talvez através de uma eventual ‘desdolarização’”, que “poderá ou não vingar, mas só a longo prazo”, sustentou.
Desde 1 de janeiro deste ano que os BRICS – grupo de países constituído pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – integram mais cinco elementos com a entrada da Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU), Etiópia e Irão, o que aumenta a presença islâmica neste bloco, que agrega quase metade da população mundial (40%) e um conjunto de recursos petrolíferos (cerca de 44%), “o que permite antever uma mudança económica e geopolítica mundial”, refere João Henriques.
No entanto, adianta, futuros alargamentos devem ser mais criteriosos, uma vez que as diferenças são variadas, as realidades de cada país e as necessidades também são diferentes e os propósitos igualmente diversos.
“A componente económica é comum a todas essas vontades, a todos esses objetivos, a todos esses propósitos da adesão”, sustentou o vice-presidente do OMI, que organizou conjuntamente com o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa a conferência “O Alargamento dos BRICS a Países Islâmicos: Um Novo Fator de Mudança na Geopolítica Mundial?”.
Henrique lembrou que a aguardar para entrar no grupo estão cerca de três dezenas de outros Estados de África, da América do Sul e também da Ásia.
“Todavia, os critérios têm de ser bem rigorosos, porque as necessidades são diferentes. Há países que têm também propósitos, como é o caso da República Islâmica do Irão, de natureza diplomática de estabelecimento do estreitamento de relações bilaterais e multilaterais”, argumentou.
“O mesmo acontece também com os Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Também há, depois, o fator do petróleo, a realidade do petróleo, que significa com esta nova entrada destes quatro países do mundo Islâmico significa uma quota de mais de 43% das reservas mundiais”, frisou.