AGuiné-Bissau vive uma atmosfera política tensa, com os líderes partidários a deixarem mensagens claras nos comícios, em declarações à imprensa e nas redes sociais de que não querem a intromissão do presidente da República, Umaro Embaló, nos respetivos partidos. Exigem liberdade de expressão, marcação da data das eleições, livre funcionamento das instituições, o funcionamento da comissão permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP) e “o fim dos espancamentos”. 

Com a necessidade de criarem uma frente coesa para as eleições que se avizinham – e para pôr cobro aos desmandos e perseguições que denunciam –, os partidos optaram por criar coligações entre si, como foi o caso do PRS e do APU-PDGB, dando início a um processo de solidariedade política.

Um episódio marcante ocorreu a 26 de fevereiro, quando Braima Camará, líder do Movimento para Alternância Democrática G-15 (MADEM-G15), segunda maior força partidária da Guiné-Bissau e a que lidera a oposição, se deslocou ao Ministério do Interior, acompanhado pela direção superior do seu partido. Este encontro com Botche Candé, ministro do Interior, serviu para manifestar indignação e inconformismo face à dualidade do usufruto dos direitos humanos, plasmados na Constituição da República, no que diz respeito à liberdade de expressão, bem como à proibição de manifestações e aglomerações, que tem ocorrido em território nacional. Dirigentes de outros partidos têm feito o mesmo sem sofrer qualquer perseguição ou ameaça. 

No dia 24, no Bairro Militar, CE-29 foi organizado um comício com aviso prévio às autoridades e agentes da segurança pública. Ainda assim, as ameaças fizeram-se sentir contra o ativista e militante Quebá Sané e o deputado Bamba Bandjai, confirmou o líder do MADEM-G15.

Camará explicou que recebeu a garantia do ministro do Interior de que desconhece a situação de perseguição aos dirigentes pelas forças de segurança, tendo-lhes afirmado o governante que quer também paz e estabilidade para a Guiné-Bissau.

Braima Camará sublinhou ainda que todos os cidadãos estão, de forma transversal, protegidos pela Constituição, “desde o mais anónimo até ao Presidente da República” e, como autoridade máxima do seu partido, reconheceu a necessidade de dar a cara e fazer vincular a última palavra em caso de controvérsia ou ameaças. Por outro lado, ressaltou o facto de o presidente Umaro Embaló, num encontro com a comunidade islâmica, ter acusado o líder de ser o mentor da tentativa de golpe de Estado de 1 de fevereiro de 2022. Camará questiona o porquê de só agora se levantar esta acusação, depois das eleições em que participou, dizendo que “parece mais uma estratégia” para o silenciar. “Não irão conseguir.”

“É uma falsidade associarem-me ao evento de 1 de fevereiro. Nunca lidei com militares, nem sequer vou à casa de militares. Há militares que trato como irmãos, apenas neste fórum.” 

Recorde-se que, a 3 de fevereiro, ao regressar ao país, o líder Braima Camará viu os seus camaradas e militantes de partido, entre eles deputados que o foram esperar no Aeroporto Osvaldo Vieira, serem detidos pelas forças de segurança nacionais. “Já chega, basta de ditadura. Eu vim para morrer no meu país”, reagiu. Desde então, nas suas poucas aparições, tem vindo a exigir o respeito pela democracia, liberdade de expressão, separação de poderes e bom funcionamento das instituições, nomeadamente a comissão permanente da ANP, bem como a marcação da data das eleições e o usufruto da igualdade de tratamento para todos os cidadãos, à luz da Constituição da República.

Artigo publicado na edição do NOVO de 2 de março