Com exclusão dos negacionistas, que encontram teorias da conspiração em tudo o que mexe, presumo que a existência de alterações climáticas é um tema tão pacífico quanto o é a inércia da maior parte dos países em implementar medidas que façam realmente a diferença.

Dito isto, a par da cultura woke ou, mais provavelmente de braço dado com esta, tem surgido nos últimos tempos uma nova forma (que, refira-se, é mais organizada do que quer parecer ser…) de protesto, que assume contornos de uma hipocrisia gritante. Entre vários outros incidentes, como cortarem estradas e, com isso, obrigarem as viaturas a gastar ainda mais combustível enquanto os condutores ali aguardam que os meninos saiam da via pública, a última moda parece ser a de atirar tinta a paredes e a pessoas. Há uma selva de pedra mas os selvagens aqui são outros.

Faço notar: nada tenho contra protestos, mesmo quando discordo das causas, desde que cumpram regras básicas, que nem sequer têm de ser de cortesia. Quanto a mim, basta que não se ofenda a integridade e a liberdade de outras pessoas.

Ora, não é isso que se tem verificado e, por exemplo, o ativista que atirou tinta verde a Montenegro – com exclusão do bom gosto na cor que uma sportinguista tem de reconhecer – fez tudo errado, incluindo captar simpatia, ali justificada, com o visado.

Sujar paredes ou pessoas com tintas, sejam de que tom forem, é um ato contrário à própria causa que estes invocados ativistas defendem, desde logo por importar um gasto de água e de produtos de limpeza que em nada ajuda o ambiente. Por outro lado, é um ato de pretenso protesto que é completamente vazio de ideias e que em nada contribui para a causa ambiental ou para qualquer outra.

É certo que estes ativistas, também em função da idade que aparentam mas, principalmente, porque ninguém quer correr o risco de ser rotulado de adversário da causa ambiental, têm gozado de uma certa complacência. Contudo, estando os mesmos a extravasar os limites do aceitável e, acima de tudo, perante a manifesta hipocrisia dos comportamentos e vacuidade dos discursos, é chegado o momento de dizer “basta”.

A causa ambiental e os danos que estão a ser produzidos não se resolvem com gritos, tintas ou jovens acorrentados algures (pese embora este seja ainda o protesto igualmente estúpido mais aceitável porque, pelo menos, ficam ali sossegados e produzem menos dióxido de carbono). Pelo contrário, o ridículo com que estes ativistas nos têm contemplado milita mais a favor dos que negam as alterações climáticas.

Qualquer causa exige ideias sólidas e comportamento coerente. E, lamento, isso é o que não se tem verificado. O principal prejudicado é, claro, o ambiente. Não apenas o ambiente entre as pessoas quando os designados ativistas chegam mas, acima de tudo, o meio ambiente de facto.

Advogada

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 2 de março