Em plena campanha eleitoral, no segundo país mais envelhecido da União Europeia (e quinto a nível mundial), quando – aparentemente – não nos podemos queixar sobre a ausência de debate (e propostas) relativamente à saúde, embora, se analisarmos a fundo, percebamos bem que, à semelhança de muitas outras matérias, a demagogia e o radicalismo ideológico levam a que muito fique esquecido nesta fulcral temática para os portugueses.
Assim, muito para além da puramente artificial “fronteira ideológica” entre os grandes grupos de saúde privados, seus méritos e relação com o SNS, a área da Medicina Física e de Reabilitação, com particular ênfase no Interior desertificado, mas também nas “cinturas” das grandes cidades, continua a ser, de longe, o parente pobre da saúde em Portugal.
Assente, fundamentalmente, em convénios com o SNS, mais de 90% dos serviços prestados nesta área são operados desta forma, e, profundamente fragmentada por dezenas de pequenos operadores privados, dada a sua pouca rentabilidade, eis que – à semelhança de muitos outros – um generalizado e grosseiro incumprimento por parte do Estado, no que respeita à atualização dos valores compensatórios, permanece.
Reflexo do país “a duas velocidades” socialista, onde diversos setores e entidades são beneficiados, mas, onde outros permanecem, cronicamente, para trás – como sejam as áreas de soberania, as áreas menos visíveis ou sem força negocial – há 10 anos que as tabelas compensatórias não são atualizadas pelo Estado.
Quando a cegueira ideológica tolda pensamentos, e, principalmente, a ação governativa, são sempre os cidadãos os maiores prejudicados.
Está bem presente na memória de todos, até relembrado pelo autarca socialista de Loures, o quão nefasto foi o fim das parcerias público-privadas na saúde.
Apesar do discurso (em campanha, pois claro) dos principais líderes partidários assentar hoje, essencialmente, nos mais velhos, mas também nas virtualidades da prática do exercício físico regular, a teoria continua a não encaixar na prática.
Numa sociedade que se pretende solidária, preocupada com o aumento da longevidade, com qualidade de vida até mais tarde, e, potenciando a redução na despesa pública direta, não é justo que esta discrepância permaneça.
No auge de uma longa campanha eleitoral e longe dos grandes temas de campanha, incluindo na Saúde, valerá a pena não nos esquecermos disto, a bem de todos, mesmo os mais esquecidos.
Advogado