A soberba e fajardice de princípios e valores de quase todos os partidos tem levado a que vivam alienados da realidade, do concreto da vida dos portugueses, do quotidiano. Habitam numa confortável redoma e não é apenas o desdém pelos problemas dos eleitores ou a sua crónica falta de espinha que justifica essa alienação. Por exemplo, embora seja evidente que as redes sociais ocupam hoje um lugar central no dia-a-dia de quase todos (90%) e são não apenas lugar de comunicação mas também de busca de entretimento e informação, os partidos desprezam-nas na campanha. Os pequenos utilizam-nas para competir com os grandes, que têm muito mais recursos, e ainda para derrubar algumas barreiras comunicacionais, mas timidamente. Poucos (dois?) dominam a coisa, percebendo que alguns desses posts têm mais alcance e impacto do que muitos importantes canais do cabo.

PS e o PSD comportam-se como se vivessem em 1975, entre TV e arruadas. Até dizem que querem alcançar os jovens (os tais que emigram em massa) só que não entendem que os putos não veem televisão. Estão à espera de quê para os atrair? Têm deixado que esse eleitorado lhes escape entre os dedos mas depois, no domingo eleitoral, vão carpir a abstenção e uma ou duas vezes por ano o colapso demográfico. Afinal, não pagam milhões a agências de comunicação para que lhes façam as campanhas, os discursos, os spins?! Então e essas agências são assim tão pífias e néscias?

Pelos vistos, além de alienados estes partidos também andam enganados. Ai, o que faz a altivez… parece a fábula do Corvo de LaFontaine.

Acontece que essas forças políticas também não acertam com os idosos. Em todas as sondagens sobre as preocupações dos portugueses aparecem como temas prioritários a saúde, a educação, a habitação, a justiça, a corrupção, o crescimento económico e a criminalidade. Só bem lá para o fim da lista surgem as pensões. As pensões! Essas mesmas que têm feito o alfa e omega das promessas eleitorais, como se os nossos séniores só se preocupassem com as suas reformas.

Não admira: estamos em eleições porque um governo caiu após um escândalo que inclui o achado de milhares de euros em dinheiro vivo na residência oficial do PM e, todavia, o debate sobre a corrupção – um dos tais temas que interessam aos eleitores – não verte palavra dos principais protagonistas.

E amor com amor se paga. Ao contrário do que quem vive na tal bolha quis muito acreditar e até difundiu, as audiências dos debates têm descido. Nas legislativas de 2022, houve nove debates com audiência média superior a um milhão de telespectadores. Neste ano, apenas quatro ficaram acima dessa fasquia. Que queda retumbante! E bem merecida.

CASO SÉRIO

Como é que é possível que os terroristas climáticos sejam sistematicamente apenas e só alvo de multas? Agressões físicas desta natureza a políticos que apenas estão a exercer o seu direito em democracia são relativizadas desta forma? O que se seguirá na proteção da agenda climática?

Ativista política

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 2 de março