Representantes dos grupos palestinianos Fatah e Hamas chegam esta quarta-feira a Moscovo para tentar ultrapassar as suas divisões e negociar uma reconciliação com vista à possível formação de um governo de tecnocratas.

O vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros para o Médio Oriente e África, Mikhail Bogdanov, disse que o objetivo das consultas é abrir caminho para que os palestinianos assumam uma causa comum do ponto de vista político e sublinhou que, para Moscovo, a Organização de Libertação da Palestina (OLP) continua a ser “o representante legítimo do povo palestiniano”.

Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, anfitrião da reunião, cerca de dez grupos da OLP, do Hamas e do movimento Jihad Islâmica participarão no encontro, que terá início na quinta-feira e se prolongará até sábado.

Ayman al-Rakab, membro do conselho executivo da Fatah, disse que a reunião poderá terminar com o anúncio da formação de “um governo de tecnocratas de todas as fações”.

A Rússia tem apoiado sistematicamente a aspiração palestiniana de criar um Estado independente nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias de 1967, com Jerusalém Oriental como capital e em conformidade com as resoluções da ONU, e ofereceu Moscovo como local para a reunião.

Além disso, a Rússia aguarda há vários meses uma visita a Moscovo do Presidente da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), Mahmoud Abbas, cuja influência no processo de mediação entre Israel e o Hamas é quase nula.

Abbas, aliás, não atua como interlocutor nem tem controlo direto sobre Gaza, de onde o movimento islamita Hamas expulsou a ANP em 2007.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, tinha manifestado a esperança, há semanas, de que os representantes das principais organizações palestinianas se reunissem em breve em Moscovo para ultrapassar as divergências.

Consultas de reconciliação semelhantes ocorreram em 2017 e 2019, quando a Fatah e o Hamas exigiram que Abbas formasse um governo de unidade nacional, o que não se verificou.

Apesar da importância destas consultas para a Rússia, o Kremlin disse hoje que o Presidente russo, Vladimir Putin, “não tem planos para se reunir” com representantes das fações palestinianas, disse o porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, numa conferência de imprensa.

Na guerra em curso entre Israel e o Hamas em Gaza – a segunda mais longa na história do conflito israelo-palestiniano desde 1948 – cerca de 30.000 pessoas foram mortas na Faixa de Gaza e dois milhões foram obrigadas a retirar das suas casas, à medida que prossegue a ofensiva israelita em resposta ao ataque do movimento islamita ao seu território, a 07 de outubro, que matou cerca de 1.200 pessoas.