Há quem pense que os cuidados paliativos se destinam apenas a situações de fim de vida, um erro comum. Na verdade, são uma abordagem holística de cuidados, numa abordagem global, que combina a gestão da doença com a promoção do bem-estar físico, emocional, social e espiritual de cada pessoa, no seu todo. “Então, mas se não se destina apenas ao fim da vida, quando deve ser ativado este apoio?” – há quem pergunte.
As intervenções paliativas podem começar no momento do diagnóstico e serem disponibilizadas juntamente com tratamentos curativos ou modificadores da doença. Essa abordagem proporciona a gestão adequada dos sintomas, o apoio psicossocial, auxilia na tomada de decisões complexas e promove uma melhor comunicação em saúde.
Ao integrar os cuidados paliativos precocemente, podemos concentrar-nos no doente e na sua família – e não apenas na doença – promovendo um ambiente de apoio no qual os doentes e as suas famílias se sentem valorizados, ouvidos e capacitados ao longo do percurso.
Retrata, por isso, uma abordagem individualizada onde os planos de cuidados estão alinhados com os valores e objetivos do doente. De outra forma não faz sentido. Este cuidado compassivo e digno promove significado, propósito e dignidade face a doenças graves, aumentando o conforto, a qualidade de vida e a satisfação geral com os cuidados de saúde.
As doenças cardiovasculares, o cancro e as doenças do sistema nervoso são não apenas as principais causas de morte mundiais, mas também resultam em anos passados com incapacidade e perda de qualidade de vida. Além disso, o ressurgimento e a persistência de doenças transmissíveis representam um desafio adicional para a saúde.
Os sistemas de saúde precisam de se adaptar para satisfazer as necessidades dos doentes e das suas famílias. Esta adaptação não se limita a abordar a doença e os potenciais tratamentos, mas deverá centrar-se nas pessoas nas suas diferentes dimensões, incluindo física, emocional e psicossocial, permitindo-lhes viver uma vida digna e de acordo com os seus valores.
Os cuidados paliativos são assim uma abordagem vital na continuidade de cuidados de saúde, oferecendo apoio abrangente aos doentes que enfrentam doenças graves. Vão além das situações de fim de vida, desempenhando um papel crucial na melhoria da qualidade de vida nas diversas fases da doença grave.
À medida que continuamos a defender a integração precoce dos cuidados paliativos nos outros tratamentos de saúde, é imperativo considerar o seu impacto transformador nos indivíduos, nas famílias e nas comunidades em que residem.
Luísa Pereira, Internista, paliativista e coordenadora da Equipa de Medicina Paliativa do Hospital CUF Tejo